A Secretaria de Comunicação do Governo Federal divulgou uma extensa pesquisa de mídia onde ouviu diversos brasileiros para entender um pouco mais sobre o seu consumo de mídia, além de outras infos básicas sobre o tema.
Há quem diga que os números não mentem, mas basta a gente pensar que um copo pode estar 50% cheio ou 50% vazio para pensar em como são absolutamente manipuláveis ao vento de quem conta.
A pesquisa Brasileira de Mídia foi contratada pela Secretaria de Comunicação Social do Governo Federal e executada pelo Ibope. O resultado foi publicado no dia 29 de agosto do ano passado e reflete portanto a realidade do ano passado: a pesquisa foi feita entre março e abril. De acordo com o documento.
A pesquisa foi realizada com a população de 16 anos ou mais da área em estudo. O tamanho total da amostra Nacional foi fixado em 15.050 entrevistas, distribuídas em todo o país. Seu desenho teve como objetivo principal a leituras de todas as UFs, isoladamente, com uma precisão razoável.
Há vários indicadores levantados pela pesquisa que conta com cerca de 162 páginas analisadas por este blogueiro mas para não cansar o leitor quero destacar alguns detalhes importantes. O primeiro é que o brasileiro adora TV e não é a toa ela está presente nas nossas casas desde a infância, era um ponto focal da nossa casa. Eu mesmo tenho boas lembranças de assistir Domingo no Parque com o Silvio Santos perguntando se a criança no foguete queria trocar uma bicicleta por um pirulito.
Mas enfim vamos aos números: 63% dos entrevistados afirmaram que o meio de comunicação que utiliza para se informar sobre o que acontece no Brasil é a TV seguido da Internet com 26%, Rádio com 7% e Jornal Impresso com 3%. Já Revista, meio externo e outros(???) com 0%.
Para alguém que defende o digital no dia-a-dia pode parecer um balde de água fria saber que as pessoas usam mais a TV que a Internet para se informar, mas não é. Eu tenho TV em casa e aliás a única coisa que me faz ainda ter TV por assinatura é o jornalismo. Se estivéssemos falando de entretenimento talvez os números seriam outros.
Mas num país de proporção territorial tão grande é de se supor que muitos dos entrevistados não acessem a internet porque não tem condições de acesso à rede. Seja condição financeira, seja condição de infra-estrutura. Mesmo morando no interior de SP por muito tempo eu só tinha um tipo de acesso à internet em casa porque “era o que chegava”. Um país que não tem saneamento básico, água potável e eletricidade para 100% dos moradores vai ter internet? Não, não vai…
Tem ainda o celular pré-pago que incluiu muita gente das camadas mais populares no mundo digital e que passou longe de um computador, mas esta pauta não é tema nem da pesquisa e nem deste post.
Mas Ok vamos então assumir esse valor como uma realidade absoluta 63% das pessoas no Brasil usam TV para se informar e 26% Internet.
Será que os investimentos de mídia das marcas estão seguindo essa mesma balança? Estariam investindo nessa proporção mesmo? Eu diria que algumas marcas sim, principalmente as maiores, mas quando a gente coloca a lupa na realidade regional e fora dos grandes centros essa proporção chega a doer.
Tem empresa que não tem site ainda e usa e-mail @gmail, quiçá ter uma estratégia de mídia que envolva 26% de investimento no digital. Tem agência de propaganda mesmo que só acha que existe TV, Rádio e jornal impresso. Mas principalmente TV, que ainda garante premiação e festinha no final do ano.
E tem mais 77% porcento dos entrevistados afirmou ver TV todos os dias da semana. Já internet são 50%.
Mas acredite não é bem sobre isso esse post
Internet sua menina má
Eu voltei nesses números porque vi nesse domingo uma matéria na TV falando sobre como as notícias falsas se propagam na internet, como se a internet fosse não confiável versus grande mídia super confiável. Vamos ao texto de abertura da matéria:
“A Internet tem muita notícia falsa sobre figuras públicas e também sobre figuras anônimas que acabam tendo a vida virada de cabeça para baixo. Como separar fatos e boatos em tudo que a gente vê nas redes sociais”
E a pergunta matadora
“Você acredita o que lê na internet?” (todos com grifos meus)
Então temos aqui um responsável pelas notícias falsas do mundo, certo? Mas já saiu em jornais que o Vladimir Herzog se suicidou (se você não conhece a história ele foi assassinado e foi forjada uma história oficial). Foi a imprensa tradicional que também caiu na história toda da Escola Base e que a gente estuda no Faculdade de Jornalismo ad nauseam e por uma boa intenção a de que a história não se repetisse. Um resumo da história abaixo, mas tem um verbete completinho na Wikipedia e de onde eu tirei a info abaixo:
Escola Base foi uma escola particular do município brasileiro de São Paulo fechada em 1994. Seus proprietários, o casal Icushiro Shimada e Maria Aparecida Shimada, a professora Paula Milhim Alvarenga e o seu esposo e motorista Maurício Monteiro de Alvarenga foram injustamente acusados pela imprensa [nota 1] por abuso sexual contra alguns alunos de quatro anos.
E então o que dizer do Cid do Não Salvo que com um pouco de entendimento de como os grandes veículos funcionam conseguiu fazer com que uma notícia falsa sobre a Copa do Mundo saísse na imprensa-infalível-tradicional.
Que coisa né?
O fato é que oficialmente estamos na era da pós-verdade mas a internet está longe de ser a única culpada nisso. Aliás nunca é demais lembrar que a melhor cobertura da invasão do Morro do Alemão foi feito pelo Renê Silva um – morador da comunidade com poucos recursos tecnológicos.
Recentemente até o próprio Facebook se comprometeu a criar ferramentas para denúncia de notícias falsas. Mas quem diz o que é notícia falsa ou não. Uma notícia que vai contra um determinado político ou veia ideológica pode receber uma campanha de notificações em massa? Um governo ou um veículo de comunicação podem dizer sobre a falsidade ou não daquilo? Ou é o próprio Facebook que vai me dizer o que é falso ou não para eu ler?
E o leitor pode achar que eu fugi do tema que estava abordando lá em cima da pesquisa, mas não fugi não. Para 54% dos entrevistados o que passa na TV é confiável sempre ou muitas vezes.
Já para quem usa a internet para se informar 80% confia poucas vezes ou nunca confia na notícia. Já quando a fonte de informação é um blog 83% das pessoas também não confiam sendo que 29% nunca confiam no que um blogueiro fala.
Mas onde eu queria chegar com tudo isso?
Acho que a primeira resposta é que precisamos de um bom modelo de negócios de jornalismo para a internet. Com essa coisa da conversão, da venda, do resultado imediato e do Profit and Loss perdemos a coisa da empresa que aposta no jornalismo como forma de apoio a um país mais soberano e democrático para patrocinar aquilo que dá mais cliques, por mais idiota que seja.
A segunda reflexão que eu deveria fazer com o leitor é que me parece ser um pouco perigoso um país que aposta tão somente num único veículo de comunicação como sua fonte absoluta e confiável e soberana de informação. Fonte essa comandada no país por grandes famílias de empresários e quem interesses muitas vezes que se sobrepõe ao de informar. Palavra de quem trabalhou dentro dessa indústria por muito tempo.
E por fim a reflexão talvez mais doída deste texto é que para 70% dos leitores – de acordo com a pesquisa – tudo isso que eu escrevi aqui é um bando de informações não confiáveis. E de verdade? Ainda não tô lidando bem com isso 🙁
Se você quiser acessar a pesquisa na íntegra está ali embaixo com um locker temporário caso queira assinar meu canal no Youtube. Se não quiser é só aguardar um pouquinho que ele já libera.
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pbm-2016-secom
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