Bruna Aiiso e A Todo Vapor são dois achados do audiovisual brasileiro – agora em Amazon Prime Video
Por conta do ofício a gente fala muito aqui de séries gringas e tudo mais, mas é porque né, o nosso mundo editorial gira em torno disso. Mas sempre que posso eu tento dar algum destaque para as produções nacionais, que não contam com a mega estrutura de comunicação e PR dos grandes estúdios e nem sempre tudo é legal mesmo.
E aí que cai aqui no meu colo esse material sobre a série Steampunk Brasileira “A Todo Vapor” e sobre a participação da atriz Bruna Aiiso nele. Sim o leitor não leu errado mesmo, vou repetir, é uma série Steampunk brasileira. Esse movimento estético e cultural surgiu quando começamos a pensar nas possibilidades que as máquinas nos trariam e a gente pode até dizer o que o movimento Cyberpunk (que deve tomar força com o lançamento de Cyberpunk 2077 e já vem de Watch Dogs Legion) é um update disso. Assim sempre teremos uma mistura de coisas antigas, máquinas a vapor com equipamentos diferentões. Nas roupas há a presença do couro (tecidos naturais e antigos) com muito metal, lentes. Agora imagine misturar isso com obras clássicas da Literatura Brasileira.
A série tem uma pegada meio teatral e é uma produção 100% independente, (feita na raça como a Bruna me explicou), foi uma das coisas que eu notei ao assistir os oitos episódios de cerca de 20 minutos cada um. E antes que o leitor torça o nariz, a obra é muito legal e tem o mérito de trazer um frescor para a nossa estética de série nacional. Já merece sua atenção só por conta disso: é indie, é steampunk, fala da nossa literatura clássica. Tem uma pegada daquelas peças que você caminha por cenários e a ação acontece ali na sua frente e claro tem problemas, que acontecem mais pela falta de verba e estrutura do que pela narrativa ou direção em si. O diretor e ator Felipe Reis tem vários méritos aqui. Vários.
Não a toa “A Todo Vapor!” venceu o Global Film Festival Awards Los Angeles 2018, como melhor série de Drama; e o Rio Web Fest 2018 de Melhor Abertura e recebeu indicações à melhor Série de Ação, Melhor Produção, Melhor Elenco, Melhor Atriz, Melhor Efeito Visual e Melhor Figurino. E concorreu a outros prêmios nacionais e internacionais como o New Jersey Web Festival 2019, com indicações de melhor ator e melhor atriz de Sci-Fi, e o New York City Web Fest 2018, com indicação à melhor série de Thriller. A Amazon viu aí algo que valesse estar no catálogo deles e vale.
Bom e aí outro achado foi a entrevista feita com a atriz que falei ali em cima, a Bruna Aiiso, ela é conhecida do grande público pela sua atuação como Toshi na novela Bom Sucesso da Rede Globo e faz a vilã dessa obra, uma ninja e que deu muito trabalho na composição principalmente para as cenas de luta. A Bruna pratica boxe há mais de 10 anos, mas teve que aprender técnicas para a sua personagem.
Em tempos de novo normal eu mandei as perguntas por e-mail para a assessoria de imprensa dela e recebi as resposta em áudio e mesmo assim pude “ver” o brilho no olhar dela falando sobre a conquista, sobre os desafios da produção audiovisual independente no Brasil e sobre um projeto muito interessante onde ela fala sobre a representatividade dos atores amarelos, como os japoneses, por exemplo, nas nossas tramas. De acordo com ela, ainda tem pouco protagonismo e muitos personagens estereotipados. Confesso ao leitor e a leitora que nunca tinha pensado nisso e que agora terei um novo olhar sobre o tema, o que mostra que o protagonismo dela é muito maior que a participação em uma novela global ou agora nessa premiada série brasileira.
Mas o mais bacana foi perceber que a Bruna é super geek, fanática por Breaking Bad, e principalmente foi super atenciosa e gentil nas suas resposta para esse blog e seus leitores, confira.
Entrevista com a atriz Bruna Aiiso
A estética steampunk é pouco conhecida e quem conhece normalmente gosta de ficção científica ou games. Você já conhecia? Curtiu o fato de fazer um trabalho com essa pegada? O que sentiu quando viu o seu figurino e o dos demais personagens?
Eu nunca tinha ouvido falar na estética do Steampunk mas é muito legal quando somos atores e podemos mergulhar num universo totalmente novo. E o figurino quando eu experimentei já me senti na personagem. É como se fosse 50% do personagem ali, ajuda muito na personalidade e na construção das camadas da personagem. É muito louco como cada detalhe é muito importante.
O nosso público é formado por geeks que são apaixonados por games, filmes e séries. O que você gosta de assistir? Você tem uma série que maratona ou que sabe todas as falas?
Meus amigos falam que eu sou sou a louca das séries e consumo muito streaming. Eu assisto uma média de 5 filmes e no mínimo uma série por semana. Quando eu gosto eu maratono mesmo. Eu já assisti tudo de Breaking Bad, tenho um quadro enorme, caneca, almofada, camiseta… É o meu xodó
Você sentiu alguma diferença entre gravar no set de filmagem de TV e para uma distribuidora internacional como a Amazon Prime? O que muda?
Muita gente vê agora na Amazon e acha que tivemos uma estrutura de produção internacional, mas não foi bem assim. Foi uma série rodada 100% do começo ao fim sem nenhum tipo de patrocínio nem nada. Foi na raça, então ela não foi rodada com os recursos de uma distribuidora internacional. O set de uma Rede Globo é uma coisa impressionante, você tem muito conforto e uma mega estrutura. Desde o motorista que te busca em casa, além de alimentação, uma preparadora de elenco, fonoaudióloga, ou seja muito suporte. E esse projeto independente era no perrengue mesmo: ônibus, metrô, marmita de R$ 10,00. O ator confia muito na arte e em nós mesmos e sem isso a gente não consegue fazer nada. Nesse caso a gente juntou toda equipe/família que juntou a garra e a positividade pra fazer acontecer e a prova disso é que a gente conseguiu estar na Amazon Prime Video, uma das maiores do mundo. Agora rumo a segunda temporada.
Vi que a direção seguiu por um caminho mais teatral e conceitual do que um formato fácil mais pasteurizado. Como foi a sua preparação para a personagem?
Pois é não é a primeira vez que eu ouço isso e eu não sei de fato foi uma opção da direção ou se acabamos indo para esse caminho.
Sobre a preparação da minha personagem eu fiquei durante 3 meses tendo ensaios da coreografia de luta da cena, então eu fiquei muito focada na parte corporal. Esse tipo de cena é muito difícil então eu tive que me preparar bem fora o medo de me machucar: uma produção independente não tem dinheiro, você acha que vai ter dublê?
Participar desse tipo de projeto – ainda mais com a repercussão em importantes prêmios do setor – acaba abrindo novas portas, inclusive para produções internacionais. Como estão esses seus projetos, o que você pretende fazer daqui pra frente?
Estar na ativa é muito importante. As pessoas precisam ver o nosso trabalho, muitos projetos surgiram nessa quarentena, muita gente tirou projetos da gaveta e comigo não foi diferente. Estou trabalhando com um documentário sobre a vida do boxeador Miguel de Oliveira. Fora isso eu desenvolvi o projeto de lives chamado “Brasileiros” onde eu entrevistei 60 artistas de ascendência amarela visando principalmente a inserção desses artistas no audiovisual brasileiro e levantando a bandeira da representativa amarela, questionando os órgãos e as pessoa pessoas poderosas – diretores, produtores de elenco etc – do porquê da escassez de oportunidades no audiovisual para nós artistas amarelos. Questionando os motivos para termos personagens tão estereotipados e com tanta falta de relevância nas tramas. Enfim desse projeto de lives no meu Instagram ele evoluiu e vai crescer e só posso dizer isso até agora, mas vai virar uma coisa muito maior.
Poderia deixar um convite para todos assistirem “A Todo Vapor”?
“A Todo Vapor” foi uma série totalmente independente então por favor prestigiem as produções independentes. Só quem faz esse tipo de produção sabe o quanto é difícil atuar num projeto assim. A gente se desdobra em mil pra fazer essas coisas acontecerem. Hoje estamos na Amazon, quem vê isso pensa que foi fácil, mas não foi fácil. Então compartilhem, divulguem e façam esse projeto ser mais conhecido.