Detox tecnológico: desliguei meu celular por 4 dias e acredite não morri!
Na sexta antes do carnaval eu atendi meu último cliente de consultoria, terminei uns relatórios e por volta das 17h30 fiz minha entrada para a Rádio Conectar. Depois disso peguei o celular e apertei o botãozinho de desligar.
A intenção era provar – para um viciado em tecnologia – que existe vida após o celular. É bom lembrar que não fiquei off-line, ainda tinha os outros dispositivos. Até porque eu acho essa coisa de on ruim e off legal a maior baboseira da galáxia. Imagine você estar com uma dor de cabeça daquelas e não tomar um analgésico ou ter uma doença e não fazer o tratamento “porque envolve tecnologia”.
Também sou totalmente contra o termo “estamos escravos da tecnologia”, até que a inteligência artificial realmente chegue máquinas inertes não podem nos escravizar: pegue aí seu eletrônico mais perto e dê uma bela cutucada nele ou um peteleco. Ele revidou? Não? Então ele não pode escravizar você acredite.
Visto por esta ótica seria um experimento bobo desligar o celular, mas queria ver o quão irrelevante este tipo de aparelho está ficando em relação aos demais. Para deixar o experimento ainda mais interessante mesmo tendo acesso à outros aparelhos eu me reservei o direito de publicar o mínimo possível nas redes sociais e responder o mínimo possível de interações.
Dia 1 – velhos hábitos
Sempre que saio de casa passa a mão na calça para verificar 3 itens: carteira, chave e celular. Como sou muito esquecido é uma forma que eu tenho de ver se o universo está em ordem. E aí lá vou eu carteira, chave e … Isso me fez por um bom tempo ficar com uma sensação de perda e ter esquecido o telefone em algum lugar. Foi sem dúvida o principal sintoma do primeiro dia.
O segundo apareceu quando fui comprar comida e enquanto a moça embalava tudo naquela paz, eu inconscientemente fui pegar o telefone pra passar o tempo e cadê o telefone. Fiquei lá então olhando pro teto, pro chão. O mesmo aconteceu em vários momentos de espera, seja no carro como passageiro ou numa fila. Me fez lembrar que filas inúteis – como as de banco – são uma forma lenta e dolorosa de morte e me fez lembrar que na semana passada fui no ortopedista e ele atrasou a consulta e eu nem liguei, afinal tinha ali tudo on-line. Se estivesse sem o celular teria de alguma forma um surto de tédio ou teria que ler uma revista caras de páginas desgranhadas.
Dia 2 – O despertador não tocou – ufa
Celular, despertador e relógio viraram uma coisa só. Como era domingo nem fiquei triste do despertador não ter tocado. Na hora de fazer o almoço usei um relógio de pulso para contar o tempo de preparo dos ingredientes quando o ponteiro chega onde mesmo?
Falei para amigos a experiência de não celular que estava fazendo e eles disseram “percebemos”. O celular é uma incrível ferramenta de deixar a gente mais próximo de quem a gente gosta e receber notícias em texto ou vídeo muito rápido.
Acho um erro dizer que a tecnologia nos afasta. Sem o celular nunca me senti tão longe dos queridos como no mundo offline, mas no encontro presencial pude falar mais, interagir mais e já não ia mais de forma automática pegar o telefone no bolso. Interessante…
Dia 3 – Telefone pra quê?
A esposa foi visitar o avô e disse que não me avisaria quando chegou porque eu estava sem o celular. Foi realmente a primeira vez que quis quebrar a minha promessa e ligar o aparelho, pelo menos para saber se ela chegaria bem no destino. Meio sonolento lembro de ter gritado, use o Hangouts. Como tinha os outros aparelhos não precisava nem de ligação, nem de sms e nem de WhatasApp. E não é que deu certo?
Este dia foi a redenção. Eu simplesmente não sentia mais falta do aparelho. Nem das ligações nem sempre convenientes, nem das notificações, nada, simplesmente não havia porque.
É fato que ainda tenho contatos que ligam, mas penso que não exista nada mais obsoleto que uma ligação telefônica. Confesso que não tenho muita paciência para o WhatsApp e se você participa de algum grupo onde as pessoas postam dezenas de conteúdo sem a melhor utilidade considero você um herói. Eu não tenho muita paciência para isso não e só faço em alguns casos para entender alguns comportamentos de consumo, conhecimento este que vale ouro para os clientes. Também não são muito afeito às mensagens de voz do WhatsAPP, você tem que baixar, ouvir e falar depois.
Neste quesito uma mensagem em texto ou um tuite e até o velho de guerra e-mail continuam imbatíveis na minha opinião. Quer falar mesmo comigo? Me manda um e-mail ou clica aqui. É sem dúvida o melhor caminho. Então ficar livre das chamadas de voz foi sim alívio.
E de repente eu olho para o aparelho ali parado e desligado e sinto uma sensação de prazer, uma espécie de nirvana ao descobrir que ali de fato jaz um aparelho datado e com os dias contados, como a própria Wired já anunciou. Se tirassem a sua ligação por voz mas você ainda tivesse o aparelho aí na sua mão ainda poderia se comunicar com o mundo e não ia sentir falta deste recurso. E se ele não faz mais ligações – porque não precisa – ele é um telefone ou um tablet de bolso? E se ele não estivesse no seu bolso mas nos óculos, relógio, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapé?
Dia 4 – Novos tempos
Noutros anos todo mundo reclamaria que choveu no carnaval, neste todos comemoram. É o sinal de que as coisas mudaram e neste dia eu simplesmente esqueci a existência do meu aparelhinho. Também vi algumas mensagens acumuladas no Facebook e algumas dezenas de chamadas no chat e pela primeira respondi algumas. Era já pra ir fazendo a descompressão.
Parei pra pensar no que realmente fez falta: fotografar alguns momentos, ficar mais próximos de pessoas queridas, fazer algum comentário sarcástico ou engraçado no Twitter de algum momento, mas tava ali vivo. Me belisquei só pra garantir. Doeu.
Não deixei de viver, não virei um zumbi e nem comecei a babar e bater a cabeça na parede. E com a certeza de que existe vida – e boa – pós celular. Só não é preciso ficar sem porque ele te deixa mais ferramentado no dia-a-dia: notícias, comunicação entre amigos, GPS, busca a qualquer lugar.
Dia 5 – Hora de ligar
Acordei, tomei café, fiz algumas coisas da minha rotina diária e liguei o meu celular. Ele está lá na cômoda e ainda não tive coragem de ver quantas notificações sem abrir.
E vim aqui contar para vocês que estou vivo, inteiro, nenhum animal se machucou neste experimento e você não é escravo da tecnologia. Ela te ajuda até onde você quiser, mais do que isso desconfie.

ou envie para a chave: 0ff200e2-6ad9-4f41-bf33-1e2a1a48ab1e
Eu não sou viciado, para quando eu quiser! Ou não?!? rs
Ótimo!!! Adorei!
Douglas Ribas. Será será rsrsrs
Diuale que bom que gostou 😀
muito bom o texto! parabéns
abs
André Aquino
MEU DEUS, preciso testar!
Muito bom e inspirador!! Parabéns mestre
Muito bacana o texto e a experiência! Me inspirou.
Não sou referência neste quesito. Sem gadgets me sinto pelado. E isso desde a época que um relógio com calculadora ou um game & watch da nintendo eram o topo da cadeia alimentar geek. Mas concordo numa coisa: ligação de voz é a coisa mais demodê que já vi. E sua versão de vídeo, com Skype é também igualmente ultrapassada. Só serve mesmo quando precisa olhar no olho do caboclo e sacar suas intenções pelas expressões faciais.
Não desliguem seus celulares, amigos. Só coloquem no mudo, nem no vibra, e desliquem a rede de telefonia (ah, se fosse possível de fazer isso sem perder a ~internerd~)
Parabéns pelo esforço, Armindo, e já coloco aqui minha opinião: melhor uso de um feriado de carnaval ever (acho q só perde para automatizar sua casa usando raspberry pi, mas isso é assunto pra outro feriado).
GPGC Obrigado pela mensagem
Valeu Paschoal!
Marina obrigado pelo comentário!
Tassiaba que bom que ficou inspirada 🙂