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Eles estão redefinindo a economia de São José dos Campos

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Você não achará os exemplos deste texto nas estatísticas. Eles aparecem como a secular economia informal, mas totalmente repaginada. Não se trata aqui somente de dinheiro, mas de satisfação pessoal e de um certo inconformismo com o modelo atual, misturado com uma vontade real de contribuir para o mundo. É um estilo de vida que busca conquistar o mundo sem perder sua essência.

São José dos Campos é uma cidade conhecida por ser poderio econômico principalmente no setor de tecnologia, inovação e indústria. Faça o teste e pergunte para um morador da cidade qual a atividade econômica da cidade e a maioria irá responder industrial sem pestanejar. Mas essa realidade está mudando.

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Um dos setores mais fortes, da indústria automobilística, tem sofrido constantes cortes de funcionários. Já em 2014 uma matéria do G1 do Vale do Paraíba apontava que essa indústria demitiu 4,4 mil trabalhadores em 2014 nas cidades de São José e Taubaté. A baixa venda de carros teria sido responsável pela perda de mais de 5 mil postos de empregos na região no começo de 2016. Parte disso é claro reflexo do cenário nacional, uma vez que dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados no começo do ano apontavam que a Indústria foi o setor que mais demitiu em todo país, seguido de serviços e comércio.

A desculpa mais simplista seria colocar a culpa na crise econômica e negar essa possibilidade seria um erro, porém não se trata só disso. Uma lida atenta no parágrafo anterior irá mostrar que as demissões já acontecem desde 2014. Coloque nesse molho a crise institucional e financeira que a Petrobras passa e seus possíveis reflexos em investimentos locais e outras indústrias que aos poucos abandonam a região em busca de novos mercados competitivos na nem sempre leal guerra dos incentivos fiscais.

Mas há um outro item pouco discutido. As indústrias que fizeram sua lição de casa e se modernizaram precisam cada vez menos de pessoas e as que não se modernizaram não ficaram competitivas: se ainda não fecharam, vão fechar suas portas. Há estudos sérios em andamento na cidade que apontam uma possibilidade do parque industrial de São José dos Campos ser abandonado, causando uma natural migração da mão-de-obra para outras áreas de atuação. Não a toa que a região foi uma das que mais sofreu em todo Estado com a perda de riqueza no primeiro trimestre deste ano, na comparação com o último trimestre de 2015, entre as 16 regiões do Estado. No período, a retração foi de 4% no PIB (Produto Interno Bruto) regional, segundo levantamento divulgado pela Fundação Seade. No Estado, a média do recuo do PIB foi de apenas 1%. Essas informações estão disponíveis no jornal Gazeta de Taubaté em matéria publicada no dia 16 de junho.

A veia empreendedora de São José dos Campos

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A economia da cidade pulsa e se não há escape pela indústria pode estar no empreendedorismo a salvação da economia local. No final de 2014, a Endeavor Brasil lançou a 1ª edição do Índice de Cidades Empreendedoras e São José dos Campos ficou em sexto lugar. Essa informação foi amplamente repercutida por aqui, porém sem uma lupa importante: nossa cultura empreendedora e o acesso ao capital ainda são limitados. Há uma boa infraestrutura e pessoas qualificadas. É potencial latente, mas ainda não factível, confira o gráfico:

fonte: Endeavor

Há esforços louváveis nesse sentido na cidade e o Parque Tecnológico de São José dos Campos é um dos principais vetores de desenvolvimento. Startups e empresas de tecnologia tem ponto garantido no espaço e apoio ao crescimento, porém há ainda um outro mercado invisível que começa a chamar a atenção.

A Economia Laranja

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Eu comecei a ver o fenômeno nas minhas redes sociais e aos poucos jovens que normalmente estariam amargando as agruras do mercado de trabalho em colapso começaram a tomar iniciativas de empreendedorismo próprio. Se você busca uma classificação eles podem se encaixar no segmento da economia criativa mas que também englobam uma série de definições. E talvez o melhor termo para definir este fenômeno (não confunda com o empreendedorismo tradicional) pode-se buscar o termo “Economia Naranja” desenvolvido pelos funcionários do BID Felipe Buitrago e Ivan Duque:

“Se a Economia Laranja fosse um país, seria a quarta maior economia do mundo, ocuparia o nono lugar como exportador de bens e serviços e representaria a quarta maior força de trabalho do planeta.”

Se você quiser se aprofundar sobre o tema há um e-book que pode ser baixado gratuitamente aqui. E talvez o leitor se pergunte qual é a diferença do setor econômico tradicional. Além da questão cultural e criativa há a construção de uma nova lógica de mercado. Não é só o lucro, há a preocupação com o meio-ambiente e o consumo excessivo. Não há só a preocupação local mas em se explorar novos mercados, não há a preocupação com o grande trade, mas com a comunidade. Não há a preocupação em ocupar um posto de trabalho mas a vontade de usar as novas tecnologias como ferramenta de protagonismo econômico.

Isto não é o capitalismo tradicional mas talvez um formato que pode ser uma evolução dos nossos erros e acertos nas últimas décadas desde a Revolução Industrial. 

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Da minha timeline escolhi quatro casos que estou acompanhando há cerca de 3 meses e todos gentilmente aceitaram me conceder uma entrevista. Existem vários outros casos pipocando aí também na invisibilidade e a minha intenção é jogar uma luz sobre o tema e mostrar este fenômeno social e urbano que pode ser uma saída para uma cidade que passa por uma transição econômica num momento histórico regional tão único.

O “prêt-à-porter” digital

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A microempresária Carolina Maia, 25 anos, tem uma loja de roupas um pouco diferente. Ao invés de alugar um ponto na rua com vitrines ou ainda ter um comércio eletrônico ela aproveitou a experiência pessoal como promotora de eventos,  a vaidade e a rede de amigos digitais para criar a StilloMulher. Basicamente a estudante de publicidade pesquisa e compra looks completos de roupas, monta as melhores combinações e se fotografa com as peças. Essas produções são divulgadas nas redes sociais e os pedidos começam a chegar pela inbox do Facebook ou WhatsApp e depois faz a entrega. Ela explica como a ideia surgiu:

Quando visitei uma página do Facebook de uma loja de roupas e acessórios que ofereciam a venda apenas online, sem ter uma loja física, logo me interessei. Comentei com o meus pais sobre a ideia de abrir o meu próprio negócio com vendas online de roupas e acessórios, e eles me apoiaram e tinham certeza que poderia ser bem sucedida. Meu pai me ajudou logo no começo, me disponibilizando um dinheiro para investir no negócio, que então pude comprar diversas peças e começar então a fazer minha clientela.

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Há sim a ideia de ter uma fonte de renda dessa atividade mas há também outras motivações. “Acredito que a motivação começa quando buscamos por algo que nos faça bem, e que aquilo preencha nossa vida de tal forma, que nos faça impulsionar a sempre querer mais”, explicou Carolina. Ela me explicou que a crise afetou um pouco as vendas, mas que ela vende bem porque as amigas acabam indicando para as outras amigas. Não se trata só de vendas de roupas: o cliente compra a consultoria dela e a montagem dos looks, além da praticidade da compra por ferramentas digitais.

fotos: divulgação/acervo pessoal

Da churrasqueira para o pote

foto1O empreendedor Ivan Junior começou a trabalhar com 14 anos numa churrascaria, depois atuou fazendo churrascos particulares e sempre levou uma pasta de alho diferenciada e que agradava os clientes. O tempo passou surgiram outros desafios profissionais mas a pasta de alho ainda ficou nos churrascos com os conhecidos no final de semana. Até que um dia uma amiga perguntou porque ele não vendia aquele condimento. Foi a partir dessa provocação que surgiu a “Quer Alho?”, empresa hoje que vende 3 molhos com a matéria-prima que o acompanha desde a adolescência. “Eu criei o Bafo de onça (tradicional) Bafo de Bode (com azeitona) e Bafo de Dragão (com páprica picante)”, explica Ivan.

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As principais dificuldades apontadas pelo empreendedor foram a criação de todo o conceito e até as críticas da mãe:

Não foi fácil, mas tenho uma Mãe que é super crítica, e tudo pergunto pra ela, se ela falou que ficou bom é por que está bom! Não é por que ela é mãe que ela vai achar que tudo que faço é perfeito, pelo contrário ela corrigi tudo o que faço, e me faz procurar sempre a qualidade de tudo.
Achar uma embalagem que combinasse, uma coisa tipo retro, foram meses de pesquisa na internet para achar uma embalagem com tudo isso e com um preço acessível já pensando no custo final do produto. E por que não colocar a colher junto a embalagem? Para que as pessoas possam experimentar o produto logo após abrirem o pote.

Hoje o produto está em espaços de foodtruck, feiras noturnas com conceito artesanal e já vieram pedidos pelas redes sociais do Rio de Janeiro, Paraná e Minas Gerais. Os números impressionam: a primeira produção teve 100 unidades vendidas em 15 dias e a meta é em pouco tempo chegar em mil unidades que serão também comercializadas em restaurantes, mercados e açougues. “E quem sabe futuramente exportar este sabor brasileiro”, já planeja o garoto da churrascaria que virou o empreendedor que quer ganhar o mundo com seus molhos.

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fotos: 1 – Keyla Faustino; 2 – Acervo Pessoal

Negócios como lifestyle


 

A cada nova realização a empreendedora Bella July ia postando em suas redes sociais. Desde a primeira ideia até a criação da marca e as primeiras peças iam sendo compartilhadas. Foi assim que tomei conhecimento da marca  de acessórios de luxo Bellina Caetano que surge em São José dos Campos já com a intenção de ganhar o mundo.

Eu amo viajar, fotografar, preparar eventos, conhecer pessoas, me produzir, ficar blogando por ai nas mídias sociais enfim tudo que uma mulher moderna gosta de fazer no seu dia-a-dia. E eu vi que ter a minha própria marca seria um prato cheio para fazer tudo o que sempre tive como hobby virar dinheiro e sucesso e tinha também o fator morar fora do país e ainda assim manter uma conexão, poder visitar o Brasil constantemente.

Antes de lançar as primeiras peças ela pesquisou várias técnicas de grandes marcas. “A sacada maior foi produzir esses produtos no Brasil onde a moeda esta desvalorizada e vender no mercado exterior em dólares”, explica July. Na entrevista ela disse ainda que pretende de fato representar o país no exterior não só como conceito mas como argumento de marketing para as vendas realizadas lá fora. “Aqui nos EUA estamos iniciando as vendas mas as gringas ficam encantadas com a variedade de tonalidade de cristais, as cores vibrantes fortemente ligadas à energia do Brasil, o nome Bellina Caetano é bem abrasileirado e logo de cara as pessoas já associam a beleza da mulher brasileira com as peças.

Existem as dificuldades da operação mundial mas há ainda mais o brilho nos olhos de quem não se conforma com as barreiras impostas pela economia tradicional ganhando novas significações para o termo empreender.

A Bellina Caetano hoje se tornou pra mim o meu lifestyle tudo que eu faço ou vivo é focando toda a minha energia em coisas que agregam a marca. Eu sinto que a medida que eu for crescendo como pessoa a marca ira crescer comigo.

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fotos: Acervo pessoal/divulgação

A vida sustentável como Core business

bru e jorge

Bruna Tau é produtora de moda e o Jorge Neri produtor musical e os dois amigos muito queridos que sempre tiveram uma preocupação muito grande com as pessoas ao seu redor e com o mundo como um todo. Junto com a filha Helena estão buscando adotar conceitos mais sustentáveis para a família deles e foi nesse contexto que surgiu a marca “A Sereia” que comercializa tanto alimentos como cosméticos. Não são só produtos, mas uma forma de expandir o conceito do consumo consciente e conceito do lowsumerism:

A Sereia nasceu a partir dos nossos questionamentos quanto ao consumo e a procura de caminhos mais conscientes. É importante repensar e nos alinhar com as questões ambientais por exemplo. Perceber que as pessoas estão muito mais abertas a estas questões e que querem repensar suas atitudes para com o mundo onde vivemos tem sido uma alegria. Outra grande realização é poder oferecer produtos de maior qualidade que os industrializados.

A produção ainda é pequena e bem artesanal mas tem sutilezas como, por exemplo, descontos para quem devolve o pote de vidro que será reutilizado. Tudo é feito pelo casal. “Pintamos as tampas das embalagens, fazemos as etiquetas, produzimos os produtos e entregamos”, explicou a Bruna. Atualmente são comercializados potes de Aloe Vera (170ml e 500ml), Óleo de coco (170ml e 500ml) e Biomassa (500g).

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