Entrevistei a atriz Gabriela Toloi que participou da icônica série Doctor Who
Doctor Who dispensa apresentações: é uma série nerd icônica que tem fãs ávidos por todo o mundo.
A Gabriela Toloi, é uma atriz nascida em São Paulo mas com uma carreira internacional exemplar tendo estudado nas escolas mais prestigiadas de artes no Brasil, EUA e Londres onde mora atualmente.

Ela já participou da terceira temporada de Psi, da HBO, e é a primeira brasileira a fazer parte do elenco de Doctor Who como Jamila no episódio “Praxeus”.

Mas seria muito simplista limitar a carreira da atriz a somente essas duas participações. Ela já fez comerciais de TV, e pelo menos uma dezena de peças teatrais. Possui ainda formação para atuar em musicais e até com iluminação cênica.
E com tantos talentos podemos adicionar também sua simpatia. Pelo menos foi o que eu senti nessa entrevista em que a Gabriela – ainda vendo e sentindo na pele os efeitos da pandemia em Londres – conseguiu um tempinho para responder algumas perguntas de uma forma muito gentil para este Blog do Armindo.

Além desse momento de Covid-19 e seus impactos na indústria do entretenimento é claro que eu quis falar um pouco mais sobre sua participação em Doctor Who.
Ela nos contou como um colega de quarto foi fundamental nesse processo e deu detalhes de bastidores e nos confidenciou como tem dedicado um tempo para assistir os clássicos da era de ouro do cinema de Hollywood.
Confira abaixo esse papo com a Gabriela Toloi.
Entrevista com a atriz Gabriela Toloi.

Blog do Armindo: Doctor Who é uma série muito peculiar com fãs bem nichados. Você conhecia antes de receber o convite a série? Chegou a assistir algo de ficção científica ou foi realmente algo novo para você?
Gabriela Toloi: Eu conhecia a série, até por ser muito famosa, mas não assistia. Tive menos contato com ficção científica do que com outros gêneros, eu era muito mais de assistir Sherlock Holmes, Agatha Christie, sempre gostei muito de histórias de mistério. Das séries da BBC eu assistia muito Sherlock, que tinha na época o mesmo showrunner de Doctor Who.
Foi quando recebi o convite para fazer a série que adentrei esse mundo, e gostei muito! Achava que era uma pegada mais aliens e sci-fi, mas tem episódios históricos que são muito legais, e eu não imaginava, me surpreendi de uma forma extremamente positiva. A série tem tipos de episódio para todos os gostos, trabalha vários gêneros dentro dela mesma e consegue agradar a todos. Passei a acompanhar depois que fiz!
Uma das principais qualidades de Doctor Who é uma estética bem própria, beirando um pouco o kitsch, como foi tomar contato com o seu figurino e maquiagem e conviver com todo esse backstage?

Eu conhecia a estética porque tinha contato com fãs de Doctor Who, um dos meus colegas de quarto é mega fã. Eu via os souvenirs dele, caneca da Tardis, porta-lápis da Tardis, os figurinos. Eu tinha uma ideia de que era uma estética muito própria. Quando fui chamada para fazer o teste, pedi ajuda a ele pra ensaiar, justamente para me aproximar do estilo já estabelecido. Ele também fez uma lista de episódios que eu deveria assistir, e ia me ajudando. A forma de atuação da série é muito naturalista dentro daquele mundo, sem ser exagerada ou didática demais.
Meu figurino é mais cotidiano, mas a maquiagem do vírus foi incrível. A contaminação pelo Praxeus, o vírus do episódio, vem do plástico, então a maquiagem traduz isso. O pessoal do design é fantástico, mesmo antes de aplicar no rosto eu via os testes e desenhos e conseguia ter uma ideia de como ficaria o resultado final. A maquiagem com certeza me ajudou a entrar no espírito da série.
Nos bastidores, a Jodie [Whittaker] já traz toda essa energia pro set com ela. Só de estar lá ela te insere nesse mundo. Isso tudo auxilia muito na atuação e a entender a linguagem, você sente todos em sintonia no set.
3 – O humor britânico é muito ácido, sarcástico e nonsense e claro que a gente vê isso no roteiro de Doctor Who. Foi um desafio pegar essas nuances nos seus diálogos? Eles te ofereceram algum apoio para conseguir entrar rápido no espírito da série?
O humor inglês não foi o maior desafio, até por eu já morar aqui há três anos e viver com ingleses. Quando cheguei fiz questão de conviver com pessoas daqui para fazer essa adaptação. No começo teve um choque de cultura muito grande, principalmente pelo humor sarcástico. Por vezes não entendia a graça e precisava que outros explicassem pra mim, mas foi uma questão de se adaptar. Quando cheguei ao roteiro não foi tão difícil mais.
Não tive preparação antes, já que na própria gravação o diretor falava conosco sobre o tom que queria, e pela natureza das minhas cenas era fácil fazer ajustes na hora. Ele era muito solícito, sempre conversava e estava aberto a sugestões
4 – Você assiste mais séries ou filmes? O que tem na sua “lista de desejos” para assistir?
Agora estou assistindo mais filmes e minisséries. Com a questão da quarentena, não quis me prender a projetos super longos, para experimentar várias coisas durante esse período. Ultimamente, o que assisti da minha lista de desejos foi Hollywood do Ryan Murphy, na Netflix, e revi …E o vento levou, que já tinha visto mas não me atentei tanto na época. Pretendo ver também Casablanca, que nunca assisti, e entre séries, ou Killing Eve ou La Casa de Papel. Quero ver também alguns filmes da Judy Garland, depois de assistir Judy com a Renée Zellweger e me encantar com a trajetória dela – acabei de ver O Mágico de Oz pela primeira vez!
Estou nessa pegada de assistir filmes antigos bem Anos Dourados de Hollywood, e a série da Netflix com certeza me influenciou. A linguagem é super diferente, o cinema tinha outra cara, estou adorando ter contato com isso.
Entre as produções novas, estou assistindo Drácula da BBC e O Alienista da Netflix, que também tem um quê de mistério e assassinato que gosto muito.
5 – Com a crise do novo Coronavírus a indústria do entretenimento deu um pause. Gravações interrompidas, técnicos dispensados… Como você acha que as gravações e a indústria em geral será afetada por esses reflexos?
Um dos maiores produtores de teatro e teatro musical inglês, Cameron Mackintosh, falou que não vê os teatros abrindo até o ano que vem. É uma das indústrias que vai sofrer por depender muito do contato entre os atores, é difícil fazer um filme ou peça respeitando o isolamento social.
Um projeto assim é de um dos Doctors: o Matt Smith, 11º Doctor, vai encenar com a atriz Claire Foy uma peça chamada Lungs, que eles já fizeram antes. O desafio dos atores será gravar com o distanciamento social, sem se encostar, e manter o mesmo nível dramático.
Por um lado, a indústria vai ser afetada negativamente, com muitos projetos parados – inclusive o meu próprio com minha companhia de teatro, a peça Bad Harvest. Como não planejamos levar ela para uma plataforma digital neste momento, nossa alternativa é esperar.
Mas ao mesmo tempo eu vejo um movimento dentro da indústria sobre se reinventar. Há várias peças produzidas pelo Zoom, vários atores produzindo materiais incríveis em casa. Eu mesma investi em um bom set de microfone e câmera para gravar projetos musicais meus. Essa nova plataforma é especialmente legal para atores independentes e pessoas que podem produzir conteúdo em casa, e também para aquele público que não conseguiria ir ao teatro normalmente e agora tem acesso a toda essa variedade de conteúdo. Acho que as pessoas nunca entenderam tanto a importância do audiovisual na vida delas, e espero que o reconhecimento siga depois que passar o momento.
6 – Estamos vendo as empresas de streaming investirem em produções nacionais brasileiras. Será que poderemos ver você em breve numa dessas produções?
Eu até cheguei a receber convites antes e alguns até durante a pandemia, todos marcados para quando passar o momento. Tenho muita vontade de trabalhar no Brasil, queria fazer um musical, participar de uma série ou minissérie, quem sabe até novelas! Espero que a gente passe por esse momento muito difícil e possa retomar de onde parou, e até de um lugar melhor, com mais entendimento e compaixão.