Matrix e a discussão (antecipada) sobre a influência tecnológica em nossas vidas
Quando nossas mentes pensam em tecnologia, usualmente a primeira conexão feita é com as inovações eletrônicas que o século XXI nos trouxe aos montes. Reduzir super-computadores a um tamanho que cabe na sua mão, e a capacidade de se conectar a internet de alta velocidade em (quase) qualquer lugar de uma cidade eram coisas inimagináveis mesmo para quem previu que já teríamos skates voadores em 2015.
Só que a tecnologia não fica limitada somente ao “hardware”. Na parte dos “software”, graças a grandes avanços de pesquisa acadêmica desvendando novas formas de se resolver equações matemáticas e criar códigos em conjunto com o aumento do poder de processamento das máquinas a resolverem esses cálculos, nos vemos cada vez mais perto de um boom de produtividade por meio de sistemas de “inteligência artificial” e “machine learning”.
Obviamente, as coisas não são tão simples assim. A discussão sobre tecnologia não fica contida na linha evolutiva dos meios, e acaba envolvendo também política, economia, sociedade e muitos outros fatores mais humanos que boa parte das máquinas por aí. Vez ou outra, aparecem também histórias que tentam trazer essa discussão à tona, como meio de trazer à superfície um assunto usualmente esquecido pela gente.
Fonte: “IBM Watson” por Clockready (CC BY-SA 3.0)
Um filme que fez isso de forma magistral foi Matrix. O filme escrito e dirigido pelas irmãs Wachowski foi um fenômeno quase inesperado, com seu sucesso tomando formas em diversos jogos de videogame como Enter the Matrix e The Matrix Online, jogos de caça-níqueis com a Betfair com o mesmo nome do filme, a antologia em formato de anime, Animatrix, e em mais três peças cinematográficas – sendo que o quarto ainda está em produção.
Em meio a cenas de ação alucinantes e técnicas de filmagem fascinantes como o “bullet time”, que infelizmente perdeu seu encanto por se tornar tão utilizado, estava uma discussão profunda sobre o futuro do mundo e a nossa relação com tecnologia. Para quem não se lembra, o filme se passava em um mundo onde a humanidade em grande parte se encontra confinada em uma rede de realidade simulada criada por máquinas que usavam seus corpos como fontes de energia.
O protagonista, Neo, acaba sendo um dos poucos que conseguem fugir das condições de tal universo distópico com sucesso. E de posse de suas habilidades sobre-humanas, ele se une a um grupo de resistência para partir em uma batalha contra essas terríveis máquinas.
Fonte: Unsplash
A história acaba integrando em si mesma questões sobre inteligência artificial, o mundo “hacker” e as nossas relações com a tecnologia. Até hoje, é discutido como as Wachowski trataram destes assuntos. Discussão essa que chegou até mesmo ao mundo acadêmico!
Só que essa discussão não pode ficar inerte em mídias e na academia. Sem entrar no âmbito de pessoas que escolhem não ficarem imersos nas novas tecnologias ao se negarem a consumi-la e se manter em contato com a natureza – sem perceberem que isso em si é um baita privilégio – é de bom grado que nós como sociedade tenhamos controle sobre o quanto a tecnologia nos influencia.
Claramente, o mundo de Matrix é cheio de hipérboles que dificilmente serão reproduzidas no mundo real. Mas mesmo nesse cenário, é de se admirar – e não deixar de discutir – como suas criadoras popularizaram não só a temática cyberpunk/“hacker”, como também levantaram questões que se tornam muito relevantes para nós 20 anos após o lançamento do seu primeiro filme.
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