O carro vai virar nosso novo centro de lazer?

Dias desses postei no meu Facebook que eu queria muito voltar a ir ao cinema, enquanto isso não acontece eu gostaria de ir num desses cinemas antigos de Drive-in que você parava o carro e ligava o som ali numa maquininha (hoje daria pra fazer por FM ou Bluetooth) e curtia seu filminho ao ar livre.

Imagem de Markus Distelrath por Pixabay 

Eu tive minha infância na década de 70/80 – um período que morei na região metropolitana de SP e outra no interior paulista e não me lembro de ter visto um cinema assim pessoalmente. Até onde puxei da memória essa instituição do entretenimento da sétima arte eu só tinha visto mesmo em filmes antigos norte-americanos.

Mas seria um erro dizer que eles não existiram no Brasil. Talvez uma das principais provas disso tenha sido o Cine Drive-in Brasilia criado em 1973 com seus 15 mil metros quadrados de área asfaltada, capaz de acomodar 400 veículos em seu estacionamento; e uma tela de concreto medindo 312 metros quadrados e sua projeção com moderno projetor digital.

A história dos drive-ins e o uso do carro como espaço de lazer

Era década de 30 e os EUA vivam a época de ouro do cinema. Após a Grande Depressão, a indústria recupera-se. Surgem superproduções como A Dama das Camélias, …E o Vento Levou, O Magico de Oz e O Morro dos Ventos Uivantes. Novos recursos técnicos possibilitam o desenvolvimento pleno de todos os gêneros.

Imagem de StockSnap por Pixabay 

Foi nesse período que o magnata Richard Hollingshead Jr. abriu o seu primeiro cinema nesse formato, na cidade de Nova Jersey. Algumas outras experiências ocorreram na década de 20, mas foi em 1933 que a invenção foi oficialmente patenteada. A história toda é contada aqui pela Larissa Pedron no site Cinema de Buteco e também recomendo outro artigo, dessa vez, do Antonio Ricardo Soriano, no blog Salas de Cinema de SP.

As pessoas que têm carro são tão preguiçosas que não querem sair dele nem para comer.

A frase acima está num belo artigo do jornalista Álvaro Oppermann na revista SuperInteressante que detalha o surgimento de outra inovação que mudaria pra gente o nosso uso do carro, o Drive-Trhu. O ano em que isso aconteceu? Foi em 1931, poucos anos antes do conceito do cinema de carro.

Consta que o inventor da faculdade Royce Hailey ouviu a frase acima e resolveu criar um modelo que as pessoas faziam o pedido direto na cozinha e recebiam em seus carros.

Mas foram só quase 40 anos depois que a rede lanchonetes Wendy’s (que no começo do ano anunciou o encerramento da operação aqui no Brasil) popularizou o conceito, adotado somente em 1975 pelo McDonalds na cidade de Sierra Vista, Arizona. Mais tarde ficou conhecido por “McDrive” ou “AutoMac” em alguns países.

O mais próximo que eu tive da experiência de ir a um Drive-In foi em Orlando nos EUA no Parque Disney’s Hollywood Studios. Lá tem um restaurante que celebra o gênero da ficção científica e recria esses espaços que fizeram parte da vida de tanta gente.

foto: Armindo Ferreira

Criações da década de 30 que voltam com tudo agora e no centro delas, novamente o carro

E quando a gente achava que o mundo retrô estava devidamente representado pelas patinetes, é no carro que está agora, por enquanto o melhor jeito de fazer compras e ter entretenimento.

O extremo desse conceito talvez sejam os moradores da Alemanha que fizeram uma rave de dentro dos carros. A “inovação” foi divulgada pela Rádio BandNews aqui no Brasil e repercutiu a mídia mundial, como por exemplo, nessa matéria do New York Post.

Longe do entretenimento aqui no Brasil já temos alguns segmentos se reinventaram, hoje no país já é possível encontrar orações no modelo “drive thru”, petições e até arte.

Até as lojas de shopping estão adotando uma versão do modelo. Você liga, compra e passa de carro só para pegar das mãos de uma vendedora que lhe aguarda. O Shopping Cidade São Paulo, por exemplo, já conta com 30 empresas que estão vendendo nesse modelo. De acordo com o Jornal Folha de São Paulo, mais de 20% dos shoppings do país oferecem drive-thru e delivery para os clientes. Já de acordo com o site do jornal Correio que cobre a região metropolitana de Campinas, em matéria assinada pelo jornalista Daniel de Carmargo, a demanda por drive-thru cresce 300%.

E os cinemas?

Pois é e não é que o cinema Drive-in também está voltando com tudo? Nos EUA 25 espaços desse tipo já estão funcionando e eles pretendem também se reinventar com cultos, formaturas, shows ao vivo e reuniões de igreja. Quem conta isso em detalhes é o crítico de cinema Miguel Barbieri Jr. em seu blog na Veja SP.

E aqui no Brasil já começam a pipocar essas iniciativas. Em São Paulo ao site G1, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa disse que, em parceria com o setor de eventos e a consultoria de profissionais da saúde, criou um cronograma e um protocolo para projetos de drive-in na área cultural. Mas já há também operações em Brasília, Rio de Janeiro, em Curitiba e em Porto Alegre.

Ainda na matéria do G1 acima há uma boa discussão sobre a segurança de se assistir um filme assim sem se contaminar. E parece que desde que as pessoas dentro do carro sejam da mesma família dividindo o mesmo teto (nada de levar a namorada ou amigos que moram em outras casas), que seja mantida uma distância segura entre os carros, que os vidros mantenham uma pequena abertura e que os vendedores de guloseima sigam certos protocolos parece ser uma prática mais segura mesmo, mas esse conhecimento deve, claro, evoluir nos próximos meses. Vale a pena ler a opinião dos especialistas no link acima citado antes de optar por esse tipo de entretenimento.

Entretenimento dentro do carro.

Imagem de Michael Kauer por Pixabay 

Recentemente a VW exibiu num lançamento on-line o novo VW Play, sistema de entretenimento de bordo do carro que deve ser lançado em breve embarcado no novo Volkswagen Nivus. Dá pra ouvir audiobooks e quem sabe até no futuro assistir a Netflix (com o carro parado no estacionamento) enquanto se aproveita um sanduíche recém entregue na sua janela do carro?

Desafios econômicos

Claro que podem pairar dúvidas sobre o poder econômico para que as pessoas possam ter seus carros e também mais seguranças sanitárias e epidemiológicas para que possamos fazer atividades como essas de dentro dos nossos carros, mas como vimos boa parte das novidades que apresentamos aqui vem justamente no período da Grande Depressão dos EUA que causou altas taxas de desemprego, quedas drásticas do produto interno bruto de diversos países, bem como quedas drásticas na produção industrial, preços de ações, e em praticamente todo o medidor de atividade econômica, em diversos países no mundo.

Assim dá pra pensar claro que há uma luz no fim do túnel e que ela vai do carro ao sofá, mas este sobre este último falarei num próximo texto.

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