Profissional brasileiro é o mais preocupado com interferência da IA e da mudança de habilidades no mercado de trabalho

A mais recente edição do Relatório Lacuna de Habilidades da Udemy, plataforma global que é o maior destino para ensino e aprendizado online, evidencia aspectos importantes do mercado profissional brasileiro, principalmente quando comparado com os outros cinco países analisados – Estados Unidos, México, Portugal, Espanha e França. Embora cada um desses países esteja enfrentando seus próprios desafios econômicos e mudanças culturais, descobrimos algumas consistências em como os trabalhadores estão se sentindo sobre as suas perspectivas de carreiras e mudanças iminentes nas habilidades profissionais. O relatório identifica não apenas as preocupações dos brasileiros frente às diferentes nações mas também revela onde nosso país está se destacando, negativa e positivamente.

O Brasil, por exemplo, é o país entre aqueles analisados mais consciente da existência de uma lacuna de habilidades no mercado, com o índice chegando a 95%, enquanto que nos EUA este número está em 84% e, no México, em 70%. O país cujo dado mais se assemelha ao brasileiro é a França, onde 93% dos entrevistados concordam com este déficit de conhecimentos no mercado de trabalho, num momento em que os franceses atravessam graves crises sociais, políticas e econômicas.

O Brasil também lidera o grupo quando se fala da preocupação com a Inteligência Artificial e a automação tomarem conta do nosso emprego dentro de meros cinco anos, com taxa de resposta em 61%. A nível de comparação, os franceses aparecem com 45%, os norte-americanos com 43% e os portugueses com 33%. Da mesma forma, o brasileiro é o mais preocupado com a possibilidade das habilidades necessárias para certo trabalho mudarem dentro de alguns poucos anos: 93%, enquanto México aparece com 88% e Portugal, assim como a França, com 78%.

O mais comum ao analisar os resultados do relatório, no entanto, é ver mais dados similares entre Brasil e México, os únicos dois países em desenvolvimento incluídos neste estudo, do que com os países já desenvolvidos. É o caso da taxa daqueles profissionais que se sentem pessoalmente afetados por esta lacuna de habilidades: 72% dos brasileiros sentem estes desafios laborais na pele, enquanto que 73% dos mexicanos veem a situação da mesma forma.
Outro dado que aproxima os dois gigantes latino-americanos – ambos em constantes crises de segurança e emprego – é o que reflete à vontade de mudar de país em busca de uma melhor oportunidade de emprego, com Brasil e México apresentando os mesmos resultados, de 88%. Esta taxa é de 70% na Espanha e chega a “apenas” 43% nos EUA. Por outro lado, o pessimismo em relação ao sucesso dos esforços de requalificação do governo e o efeito do clima político atual nas indústrias é similar em todos as regiões.

Mas há espaço para destaques positivos também. É o caso do Brasil ser o país onde mais pessoas esperam ser melhor, alcançar mais e/ou ter mais estabilidade financeira do que seus pais, com 86% dos entrevistados concordando com a afirmação, contra 65% dos norte-americanos, nível mais baixo de “otimismo”. De maneira geral, os funcionários dos países pesquisados sentem que têm menos oportunidades do que as gerações anteriores, com somente Brasil e México indo contra esta corrente.

“É interessante observar que, quando traçamos um paralelo entre os seis países estudados pelo Relatório Lacuna de Habilidade, o Brasil aparece não apenas como o mais ciente deste deficit de habilidades profissionais mas também o mais preocupado em ser afetado por este gap. E apesar de os dados diferirem bastante dos resultados dos EUA, Portugal, França e Espanha, em certos momentos se assemelha aos dados do México, que assim como o Brasil se coloca em alerta para as mudanças constantes do mercado de trabalho”, diz Sergio Agudo, country manager da Udemy para o Brasil.

O Relatório aponta que, no Brasil e no México, os trabalhadores parecem empenhados em descobrir quaisquer oportunidades possíveis no progressivo mundo corporativo, enquanto os franceses, portugueses e espanhóis parecem estar resignados em ter futuros menos seguros e prósperos. Por exemplo, o estudo perguntou se os funcionários sairiam de um emprego caso o empregador não oferecesse um treinamento adequado e as respostas podem ser visualizadas como uma representação da motivação pessoal deles. Por mais desconsolados que os trabalhadores europeus possam parecer sobre suas perspectivas de carreira, eles mostram menos probabilidade de trocar de emprego para ter acesso a treinamento.

Enquanto isso, os brasileiros estão adotando o empreendedorismo para criar seus próprios futuros. Munidos de uma conexão com a internet, eles estão fazendo cursos online para adquirir habilidades profissionais comercializáveis e manter trabalhos informais para conseguir fechar as contas. Ainda que muitos participantes tenham uma impressão positiva sobre as pessoas que estão fazendo cursos online, considerando-os mais qualificados que seus pares, os funcionários na Europa apresentaram menos probabilidade de aprenderem dessa maneira. Somente 16% dos trabalhadores franceses, 23% de trabalhadores portugueses e 34% de trabalhadores espanhóis afirmaram terem feito cursos online, em comparação com 49% de trabalhadores mexicanos e 46% de trabalhadores brasileiros.

Diferença entre gêneros

Os dados também sofrem algumas alterações quando comparados entre profissionais brasileiros do sexo masculino e feminino. A lacuna de habilidade é sentida por 69% dos homens, mas por 75% das mulheres, uma diferença de 6 pontos percentuais. Tais diferenças também podem ser observadas quando aplicadas a outros pontos.

Enquanto que os homens acreditam que as habilidades técnicas e digitais são as mais valorizadas no mercado de trabalho (37% entre eles), as mulheres dizem que na verdade são as habilidades de liderança e gestão (34% entre elas). As mulheres também creem que as soft skills são mais importantes para si mesmas do que as habilidades de produtividade, o contrário dos homens.

Apesar da maioria das respostas irem na mesma direção, homens e mulheres ainda divergem em certos temas, como quando indagados que a formação tradicional que receberam forneceu as habilidades necessárias para o atual mercado de trabalho: 78% das mulheres disseram que sim, enquanto que entre os homens a taxa chega a 83%. Sentir-se limitado pela localização geográfica também divide opiniões – 50% dos homens sentem-se limitados, assim como 58% das mulheres.

Millennials são os mais preocupados

O Brasil está se recuperando de uma recessão, então não é surpresa que a população majoritariamente jovem do país acredite que terá um desempenho melhor que o de seus pais. No entanto, é justamente a faixa etária que compreende os Millennials que se mostra mais atenta e preocupada com as mudanças repentinas do mercado de trabalho.

Enquanto que 56% dos entrevistados da Geração X acreditam na capacidade da IA e da automação dominarem o mercado de trabalho nos próximos cinco anos, o índice sobe 10 pontos percentuais, até 66%, quando analisados através da ótica dos Millennials.

Os Millennials e a Geração X, os dois principais grupos etários que compõem nossa atual força de trabalho, concordam em muitos aspectos, como por exemplo no fato de que o pensamento crítico é a soft skill que mais faz falta aos seus colegas. Porém, enquanto que para os Millennials o segundo item nesta lista seria a comunicação, para a Geração X é o trabalho em equipe, o que demonstra uma possível falha na relação entre as duas gerações.

“Essa questão da IA/Automação é uma questão que não afeta apenas o Brasil, é uma tendência global achar que a tecnologia irá substituir ou pelo menos mudar muitos empregos, mas ainda não é uma realidade assim tão clara. Mas há sim esse receio por parte do profissional brasileiro de que, se o seu trabalho é muito repetitivo ou mecânico, a máquina eventualmente poderá assumir aquilo. Num primeiro momento pode até haver a eliminação de algumas vagas, mas num segundo momento, isso fará com que apareçam novos cargos e profissões. É uma discussão que não para em substituir cargos, mas sim em transformar em novas profissões e carreiras”, finaliza o country manager.

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