No último post falamos sobre a apaixonada Penélope e seu incessante ato de tecer e desmanchar um tecido dia após dia. É na mitologia grega que encontramos outro deus. Caos seria a primeira divindade a surgir e dar origem às demais. É uma das divindades gregas mais complexas de se entender.
Mas este “deus da desordem” aparece em outras mitologias. É o caso de Loki, deus nórdico que aparece em destaque no universo ficcional da Marvel “Avengers”. Há também certa complexidade no entendimento desta figura e que de uma maneira geral pode representar o caos necessário para que possa existir evolução. E nesta lista não podemos esquecer de Seth, deus egípcio das tempestades, raios e ventos.
E antes que o leitor deixe este post achando que estamos falando somente sobre mitologia vamos à alguns números de mercado.
Relatório da Subcomissão Especial da Câmara dos Deputados sobre Mídia Alternativa aponta que a televisão concentra 64,8% do faturamento total dos meios de comunicação brasileiro, incluindo emissoras de rádio e de TV, jornais, revistas, mídia exterior, TV por assinatura, internet, guias e listas e cinema. Em 2012, o faturamento total desses meios foi de R$ 16,6 bilhões, sendo que a TV se apoderou de mais de R$ 10,8 bilhões.
Já o projeto Inter-Meios, tem registrado um aumento recorrente do mercado publicitário quando falamos em investimento em mídia. Em 18 de setembro de 2014 o veículo Meio e Mensagem divulgou dados destes crescimento em matéria de Igor Ribeiro com colaboração de Bárbara Sacchitiello:
“Depois de um 2013 tenso, em que o mercado cresceu 6,81% – próximo aos índices somados de PIB e inflação –, 2014 encerrou o primeiro semestre de forma muito mais otimista.
Segundo dados do Projeto Inter-Meios sobre os primeiros seis meses deste ano, o investimento bruto em publicidade acumulou R$ 17,29 bilhões de janeiro a junho, alta de 18,17% em comparação ao mesmo período de 2013 e o segundo maior crescimento entre semestres em uma década. Vedetes dos últimos anos, TV paga e mídia exterior mantiverem a escalada e fecharam o período com alta de 49% e 36% respectivamente.
O maior share continua, no entanto, com TV aberta, que cresceu 22% e se aproxima dos 70% do bolo, com R$ 11,91 bilhões de receita originada da venda de espaço comercial.”
O maior share continua, no entanto, com TV aberta, que cresceu 22% e se aproxima dos 70% do bolo, com R$ 11,91 bilhões de receita originada da venda de espaço comercial.
É um dinheiro que fica concentrado nas capitais, poderíamos pensar de cara e de fato é, mas não só. Dados do Ibope, apontam que o mercado de comunicação do interior paulista – quando falamos em investimento publicitário – é maior que muitos estados, confira:
Não temos muitos dados sobre investimentos publicitários no Vale do Paraíba. Sabemos que numa recente pesquisa do Sinapro-SP a região ficou com uma das que tem menos agências no Estado. Por agência leia-se com CNAE e algumas obrigações mínimas necessárias.
Uma pesquisa no site do Cenp (O Conselho Executivo das Normas-Padrão) sobre a cidade de São José dos Campos nos aponta que a cidade tem 98 agências, destas 28 são certificadas pela entidade. A lista é extensa e pode cansar o leitor, mas é só ir neste link e pesquisar em poucos minutos estes mesmos dados. São públicos.
Dados da Firjan apontam que em 2013 havia 95 publicitários atuando em São José dos Campos e 83 redatores. Você pode fazer a pesquisa neste link.
Há vários veículos de Comunicação na região, mas podemos dizer por observação que os maiores são a Rede Vanguarda, Grupo Band de Comunicação e Jornal O Vale. Também não há dados abertos sobre investimentos publicitários, mas também por pura observação(se o leitor tiver algum dado agradeço em compartilhar) poderia deduzir que é onde se concentram os maiores investimentos publicitários regionais.
E quais são os investimentos que estes grupos locais de mídia tem feito para o fortalecimento da comunicação regional? Vejo em Campinas (gosto dos exemplos para cima) que todos os veículos apoiam iniciativas do setor. Prêmios, encontros, simpósios. Por que não vemos isso aqui? Por que tanta omissão? Lembro que este blog Comunicavale está aberto para ouvir um pouco mais do que pensam estes veículos, mas não sei se vão se pronunciar.
Eu mesmo já os convidei para debates em eventos Comunicavale anteriores. Mas em muitas vezes ouvi que se um participa o outro não vai. Triste mas verdadeiro. Recentemente conseguimos ouvir alguns gestores de veículos no programa Comunicavale na rádio. Comemoramos como gol em Copa do Mundo dado a raridade deste tipo de contato.
Gostaria mesmo de ver Vanguarda, Band e O Vale juntos numa mesa para discutir o cenário da comunicação regional do Vale do Paraíba. Eu já tentei e não consegui. Talvez alguém que esteja me lendo consiga e eu peço: faça este favor a todos.
E fica a pergunta por que quem fatura mais com o mercado, aparentemente se preocupa menos com ele? A quem interessa um mercado desorganizado? Não vi ninguém de veículos – nem dos menores – se manifestando nas últimas discussões. Por que?
E em meio à minha perplexidade só me resta a esperança de saber que todos os deuses do caos, independente de suas origens, pressupõem a criação ou a organização.
PS: A professora e profissional de marketing Silvia Ferreira fez um excelente post sobre as últimas discussões do mercado. Vale a leitura.
Imagem: Airplane vortex/NASA Langley Research Center (NASA-LaRC), Edited by Fir0002 / Wikimedia

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Obrigada pela referência Armindo! Fico pensando, os grandes investimentos em propaganda são feitos no interior sim, mas quem produz as propagandas? Vejo poucas agências daqui que fazem isso. Ou fazem e divulgam muito pouco. Então, além dos grandes veículos de comunicação, também interessa às grandes agências de propaganda que vivem de BVs gordos que o mercado continue desorganizado. E quem mais sofre com isso são as digitais que trabalham sem comissão nenhuma.