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Um dia os boletos chegam para os criadores de conteúdo / influenciadores digitais

Esse final de semana estive em Taubaté a convite da organização do evento Semana Monteiro Lobato para participar de um painel com o tema “As mil faces de ser um valeparaibano digital influencer” com Michelli Buzogany Eboli (Chell), Marcela Cerqueira, Marília Morais e Thiago Galvão.
O evento estava uma graça e com o brilho nos olhos dos organizadores, daqueles que me fazem ter certeza que a coisa é boa, sabem?
O painel me fez refletir algumas coisas, o primeiro é sobre ser valeparaibano. É difícil a gente ouvir esse termo e mais difícil ainda usá-lo né? Não vou negar que alguns comportamentos, principalmente na área de comunicação regional, me cansam mais do que eu gostaria e muitas vezes tenho apenas a vontade de ignorar tudo. Mas aí vira e mexe vem o nosso horizonte com a Serra da Mantiqueira e essa raiva passa. Tenho ficado cada vez menos aqui é um fato e cada vez mais difícil participar de eventos regionais por isso fiquei feliz que tenha dado certo estar na Semana Monteiro Lobato.
Outra constatação é que nenhum dos presentes da mesa gosta do termo influenciador digital (me incluo nisso) e estávamos numa mesa sobre influenciadores. Eu devo falar sobre isso com mais calma em outro texto mas quis deixar claro e quero reforçar aqui no meu blog por escrito e para que eu seja cobrado depois. Eu odeio quem dita regra na internet. Se você quer se chamar “influenciador digital”,”digital influencer” ou simplesmente dizer que é uma Romã você pode. Diga em alto e bom som sou uma Romã e ninguém tem nada a ver com isso. Eu mesmo prefiro o termo creator, mas é um problema usar isso em entrevistas para a grande mídia. Então as vezes uso blogueiro ou me chamam de influenciador digital.

Mas um dia os boletos chegam

E acho que aí foi um dos temas que eu mais fiz questão de discutir no painel. A paixão por criar conteúdo e o talento criativo local pode minguar sem grana. O discurso de nadar contra a maré, de ser alguém protagonista da própria história, de se empoderar tecnologicamente é realmente fantástico, sou um entusiasta do tema.
Mas muitas vezes o jovem criador ainda mora com os pais, ou está em período de faculdade e em algum momento, mais cedo ou mais tarde irá querer morar sozinho, ou constituir uma nova família ou viajar pelo mundo e acredite as contas virão e os boletos são capazes de arruinar um bom conteúdo criativo. Quanto heróis da produção de conteúdo digital não morreram no meio do caminho para um trabalho que paga mais?
Há então que se pensar nos dois lados da moeda. De um lado o criador de conteúdo precisa cada vez mais se profissionalizar pensando também como uma empresa e em sua lucratividade. Não dá para terceirizar seus ganhos para o youtube ou Google. Cada um deve ser responsável pelas suas fontes de receita.
Mas não é só isso as empresas locais, principalmente as grandes, precisam ficar de olho nesse segmento e principalmente investir nele. Não adianta reclamar, sim o mundo mudou, e temos novas oportunidades de comunicação mas que precisam de incentivo para que deslanchem.
Festas, brindes, “parcerias” e fotos ou ainda números de likes ou assinantes de canal ainda não são aceitos como forma de pagamento para a maioria das contas. Então é preciso que o produtor de conteúdo regional (ou o influenciador digital ou o romã) seja remunerado também pelo seu trabalho principalmente com investimento publicitários. Talvez nem o jovem criador pense nisso ainda e se contente com o oba-oba, mas aí cada um deve saber onde o calo aperta e não há dúvidas que passado o hype haverá uma seleção natural – se esta já não está acontecendo.
Temos de um lado empresas que não se comunicam adequadamente com seu público. De outro temos talentos criativos que sabem como ninguém se comunicar com o novo consumidor e temos um abismo do tamanho do muro da China entre esses dois vetores não temos?
O capital criativo ainda salvará o mercado de trabalho da diminuição da mão-de-obra na indústria, mas só se as empresas  e os criativos derem o devido valor para isso.