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A incrível fábula do jornalista falso, o influenciador fake e a mídia oxigênio

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Era uma vez um reinado bem distópico em que coisas estranhas aconteciam. Uma deles foi o curioso caso de uma pessoa que se passou por um fotógrafo da ONU e que conseguiu enganar centenas de milhares de pessoas com uma história muito bem contada, o que seria compreensível.

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Mas o mais surpreendente é que este mago ilusionista também conseguiu enganar grandes veículos de comunicação do mundo todo com matérias e reportagens que foram publicadas como a mais pura verdade do reino. E todo mundo caiu feito um pato.

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É sério, um dos veículos que caiu foi a própria BBC até que um grilo falante deve ter surgido na orelha de alguém e tcharans o tal fotógrafo simplesmente sumiu. A história tá toda aqui contada pela própria BBC.
Lembro um dia que estava na redação e mandei uma informação errada numa nota-pé (em TV nota-pé é aquele que o apresentador lê depois que a reportagem volta). A informação era muito errada, mas eu tinha a absoluta certeza que estava certa. E lá veio o chefe de redação para o devido puxão de orelha e uma lição que levei pra vida.

Jornalismo é apuração

Apuração é quando o jornalista vai de fato checar a informação que ele recebeu. Ouvir mais de uma fonte. Naquele dia se eu não confiasse na minha memória mas fosse fazer uma pesquisa com outras fontes eu veria o tamanho do erro que estava cometendo. Com o tempo a gente aprende a desconfiar de tudo. Até quando te dizem que o amarelo é amarelo você fica meio desconfiado.
A lógica da audiência e a velocidade com que a informação precisa ser publicada para ser mais rapidamente indexada pelo Google fez com que algumas apurações ficassem em segundo plano. Pega rápido, publica rápido e se for o caso vai arrumando depois.

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Outro fenômeno que temos tido são as redações cada vez mais enxutas e profissionais cada vez mais acumulando funções. Assim falta tempo para uma apuração decente e a bola de neve está feita. Pode ter sido uma pegadinha boba de alguém que queria fazer um experimento social, ou de fato alguém que aplicou um golpe de identidade ideológica. Mas podia ser a vida de alguém, ou uma acusação falsa em cima de um inocente.
Redações enxutas, profissionais sobrecarregados, pressão por números e temos aí o cenário desenhado de fotógrafo que nunca existiu.

Da falsa notícia para o falso influenciador

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Semana passada a Agência Estado divulgou uma notícia que diz o seguinte:
Agência mostra como é fácil ser um influenciador digital falso e lucrar com isso
E claro que a gente sabe que isso existe, eu mesmo falei sobre isso em janeiro desse ano, mas o que mais me chamou a atenção na notícia veiculada, por um portal de notícias dos mais renomados, e que a manchete não conta é que

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a) Quem fez a “pegadinha” foi a agência Mediakix, que fica no Estado de Santa Monica, na Califórnia e nos Estados Unidos
b) A Mediakix é uma agência de marketing de influência que – de acordo com o seu site – é especializada em conectar marcas com influenciadores.
Vem daí que mesmo que o leitor não seja da área de comunicação pode fazer duas inferições importantes comigo. A primeira tão óbvia que dói a vista: a cultura norteamericana é muito diferente da brasileira em vários aspectos. Então comparar com o mercado brasileiro seria algo como comparar uma melancia com um tijolo e a outra pergunta talvez mais possível de todas que é “qual foi a intenção da agência – que trabalha com influenciadores – fazer isso?”.
Se você pensou que provavelmente a agência queria mostrar que o trabalho dela é indispensável para que isso acontece eu diria que é uma boa aposta. É inclusive a minha aposta.
E se você quer minha opinião talvez fosse possível recriar o mesmo experimento aqui no Brasil. Uma agência grande – colocando uma grana e um certo conhecimento de como funciona essa indústria – conseguiria umas moedas suficientes para um perfil falso com anunciantes – até arriscaria que alguém já deve estar fazendo algo do tipo.

E tudo para poder dizer:  olha só como é fácil manipular a indústria toda.

Mas vejam só como seria fácil matar essa “armação”: uma reunião presencial. Mas podia ser um skype também. E também um levantamento das pegadas digitais das pessoas. Elas tem conta no Facebook, ou no Linkedin? Já participaram de uma matéria de TV? Alguém da equipe de comunicação fez uma pesquisa a fundo dessas pessoas?

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Bom se o critério for unicamente números não precisamos de nada disso certo? Só de números para um relatório.
E aí vamos da cultura dos números dos meios de comunicação de massa para as agências cada vez mais com quadros reduzidos e gestores de marketing Level-C com a guilhotina no pescoço e sem saber o que fazer nesse momento de caos no mercado e a gente entende porque surgem influenciadores que nunca existiram que surgem e desaparecem como fadas no bosque.

Marketing de influência é relacionamento

E o Veículo de Comunicação Oxigênio?

O veículo (ou mídia como preferir) oxigênio é aquele que está no ar ou em circulação mas ninguém vê. É sério pergunte ao seu redor o consumo de mídia das pessoas e você vai se surpreender. Este reinado na floresta distópica é cheio de surpresas e de coisas que se movem e somem no ar.

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E aqui, de novo, porque eu não me canso de falar, não é que os outros veículos sejam ruins ou não tenham audiência, mas me parece que essa audiência anda cada vez mais pulverizada. E que sim a audiência da internet tem tido um papel importante (mas não único na vida das pessoas).
Mas e o que isso tem a ver com essa discussão toda? Para explicar isso vamos a um infográfico divulgado pelo blog da Kantar Ibope Media falando sobre investimentos publicitários em 2016.

Vamos lá pegar a parte que nos interessa. Investimentos em internet estão divididos entre mídia Display (3,5%) e Search (0,9%). Ou seja de todo bolo publicitário investido em 2016 4,4% ficou com internet.
Enquanto que 89% foram distribuídos entre TV, Jornal Impresso e Rádio.
Deixo para o leitor a conclusão sobre os números.
No final das contas, o jornalista fake, o influenciador fake e a adoração por veículos oxigênio são reflexos de um mesmo fenômeno. Uma comunicação que tem recebido pouco investimento e o que tem ainda faz errado. E desconfio de quem saiba dividir categoricamente o que é causa do que é consequência.
Nessa nossa fábula de seres míticos e coisas que surgem na sua frente e depois se desmancham no ar,  o que parece mais real nessa floresta é mesmo o Saci-Pererê e a Mula sem cabeça.
Do resto eu desconfiaria de tudo. Até desse texto aqui.

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