Crianças de Pirituba criam robôs tecnológicos com materiais recicláveis no Projeto Engenhoka
Yuri Miguel, Erick da Silva e Enzo de Oliveira têm apenas 10 anos, mas já se inspiram em grandes cientistas e artistas do passado e da atualidade para criar os próprios experimentos. Moradores de Pirituba, na zona Norte de São Paulo, os pequenos estudantes projetaram o Desmontado, um robô com iluminação em led que reproduz música. O androide foi premiado como trabalho destaque da Escola Municipal Jairo Ramos no Engenhoka, projeto de robótica educacional idealizado pelo Instituto Burburinho que mobilizou outras cinco instituições de ensino em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Durante quatro meses, crianças de Pirituba mergulharam em momentos da História da Arte e aprenderam a programar, montar circuitos e criar projetos com materiais recicláveis em oficinas práticas. Ao final do ciclo, encerrado nesta terça-feira (10/12) com uma exposição dos trabalhos, a escola foi contemplada com um estúdio maker completo. A sala, herdada como um legado do projeto, é equipada com impressoras 3D, tablets, mobiliário criativo, boxes de livros e materiais pedagógicos de alta qualidade.
“A vida pode estar em qualquer coisa, até em um objeto inanimado, como um robô”, explica Erick, que já se autointitula um ‘fascinado por tecnologia’. Os criadores do Desmontado contam que batizaram o androide como ‘Engenhoka Bot 009’, já que o projeto só saiu mesmo do papel na nona tentativa. “Foi muito frustrante, mas nos ensinou a continuar e persistir”, justifica Yuri.
O robô vencedor do prêmio na EMEF Jairo Ramos foi construído pelas crianças a partir de uma impressora 3D, levando componentes como placas de conexão pinboard, luzes de led e buzzer. Os elementos tecnológicos são combinados com materiais recicláveis como papelão, tinta, papel alumínio e palito de churrasco.
“Achei muito legal a ideia de trabalhar com outras pessoas e mostrar que somos capazes de fazer cultura”, destaca Helena Beatriz Gentili, de 9 anos. “Programar no computador foi muito difícil, nunca tínhamos feito, mas no final deu tudo certo”, revela João Vitor Ventura, de 10 anos. Justos do amigo Rafael Dias Alves, os alunos projetaram um vaso indígena que, segundo eles, ressalta a cultura do Brasil.
Responsável por acompanhar os alunos durante as oficinas, a professora Patrícia Borges considera a jornada do Engenhoka gratificante e surpreendente. “Além da oportunidade de estudar artistas que não conheciam, eles tiveram o primeiro contato com programação e se mostraram sempre engajados para os novos exercícios e desafios”, conta a educadora. “Na fase final de montagem das estruturas vimos o quão dispostos estavam para trabalhar em equipe, se virar para resolver problemas, propor soluções inovadoras e produzir obras autorais, foi um grande aprendizado tanto para eles quanto para mim”, completa.
Com o estúdio maker deixado como legado pelo Instituto Burburinho, a professora já planeja um novo projeto de cultura maker para o ano que vem. “As crianças têm perguntado se o projeto continua”, revela Patrícia. “Teremos mais tempo para aproveitar os materiais que foram deixados e adaptar com o que temos na escola para propor novas atividades”, projeta.
“O grande barato do projeto é também diluir a ideia de que as áreas de exatas, física e matemática estão muito distantes da ciência e das artes”, pontua Thiago Ramires, diretor de projetos do Instituto Burburinho Cultural, idealizador do Engenhoka. “É natural desenvolver uma habilidade mais apurada para determinada área no momento de escolher uma profissão, mas não significa que vocês não podem nutrir múltiplas aptidões e competências”, disse aos alunos de Pirituba durante o discurso de encerramento.
Idealizado pelo Instituto Burburinho Cultural, o Engenhoka conta com patrocínio da Siemens Brasil, por meio da Fundação Siemens, Google Brasil, Digix, Simpress, Wilson Sons e Petronas. O projeto pedagógico foi desenvolvido pela PiCode a partir de um mapeamento da História da Arte feito pela curadora Fabiana Moraes, professora brasileira que é radicada na França há 20 anos.