Na era da IA, a atenção virou o ativo mais raro e mais disputado da economia digital.
Nunca se produziu tanto conteúdo e, paradoxalmente, nunca foi tão difícil ser percebido. Impulsionada pela IA generativa, a criação em escala industrial transformou a atenção humana limitada, finita e biologicamente restrita no principal ativo competitivo do mercado. Nesse papo com o Rodrigo Bidinoto da ActiveCampaign , analisamos como a inflação de conteúdo está reorganizando o consumo, porque a informação deixou de ser o novo ouro e o que realmente vai diferenciar marcas, profissionais e empresas na economia da atenção 5.0.
Papo com Rodrigo Bidinoto da ActiveCampaign - VP / Head of Sales da ActiveCampaign.
Rodrigo Bidinoto da ActiveCampaign/Foto: divulgação.
Vivemos a maior escassez de atenção da história, justamente na era da abundância de conteúdo. O que caracteriza esse paradoxo?
O paradoxo nasce do fato de que nunca produzimos tanto conteúdo, ao mesmo tempo, em que nunca tivemos tão pouco tempo disponível para absorvê-lo. A IA generativa derrubou o custo de criação a praticamente zero, permitindo que qualquer pessoa ou empresa publique em escala industrial. Porém, a atenção humana continua limitada, finita e biologicamente restrita. Ou seja, quanto mais conteúdo surge, menos atenção individual existe para distribuí-lo. Esse desequilíbrio transforma a atenção em um recurso mais valioso do que o próprio conteúdo, deslocando a disputa competitiva de “produzir mais” para “conseguir ser percebido” e conseguir monetizar em cima disso.
A popularização da IA generativa tornou todos produtores de conteúdo em escala ilimitada. Qual é o impacto imediato disso na comunicação e no consumo?
O impacto imediato é uma inflação massiva de conteúdo, onde o volume cresce muito mais rápido do que a capacidade de consumo. Isso gera fadiga, acelera o scroll, aumenta a desconfiança sobre o que é original e reduz a tolerância do público a mensagens genéricas. A comunicação fica mais rápida, mas também muito mais superficial; a produção fica mais acessível, mas a qualidade percebida passa a depender menos da forma e mais da autenticidade, do contexto e da relevância. No consumo, o comportamento passa a ser cada vez mais filtrado por algoritmos, que tentam proteger o usuário do excesso, selecionando apenas o que é potencialmente significativo.
O impacto imediato é uma inflação massiva de conteúdo, onde o volume cresce muito mais rápido do que a capacidade de consumo. Isso gera fadiga, acelera o scroll, aumenta a desconfiança sobre o que é original e reduz a tolerância do público a mensagens genéricas.
Há sinais concretos que comprovem a queda de atenção mesmo com mais conteúdo disponível?
Sim. Um estudo de 2023 da Universidade da Califórnia, Irvine, mostra uma queda consistente no tempo médio de foco contínuo diante das telas: em 2004, um adulto mantinha cerca de 150 segundos de atenção em uma mesma atividade; em 2021, esse tempo já havia caído para 47 segundos. Estamos falando de uma redução de quase 70% em menos de duas décadas. Há ainda outros indicadores: taxas de abandono mais rápidas em vídeos, menor tolerância a mensagens longas, multitarefa constante e redução do tempo de leitura contínua em dispositivos móveis. A grande pergunta é como esse número vai se comportar em 2026 e além, e se estamos nos aproximando de um limite fisiológico ou se o próprio consumidor vai exigir experiências menos fragmentadas para restabelecer a profundidade.
O que define a economia da atenção 5.0 e como ela transforma a atenção em um ativo competitivo mensurável?
A economia da atenção 5.0 representa o momento em que finalmente superamos a ideia de que “informação é o novo ouro”. Durante décadas repetimos essa frase, mas ela deixou de ser verdadeira no exato instante em que a informação se tornou abundante, pública e facilmente replicável. Ouro é raro. Informação, hoje, não é. Com a explosão de conteúdo impulsionado por IA, informação deixou de ser um ativo escasso. O recurso realmente limitado passou a ser a atenção humana. A atenção 5.0 nasce desse reconhecimento: o ativo mais valioso não é o que você produz, mas o que as pessoas estão dispostas a dedicar a você.
Dentro desse novo paradigma, atenção se torna mensurável porque deixa rastros: tempo de permanência, profundidade de leitura, engajamento real, respostas, conversas abertas, demonstrações solicitadas, cadência de retorno, intenção capturada. Assim, a economia da atenção 5.0 é a primeira em que o “valor informacional” deixa de ser o diferencial, e a atenção passa a ter um valor que antes não existia ou não era percebido.
A democratização de recursos avançados de marketing com IA reduz desigualdades ou apenas amplifica o ruído digital?
Ela faz as duas coisas ao mesmo tempo. Por um lado, reduz desigualdades ao permitir que pequenas empresas acessem ferramentas antes exclusivas de grandes equipes, nivelando a capacidade de criar. Por outro lado, justamente por democratizar a produção, aumenta o ruído digital, porque a maioria das empresas usa a IA para produzir mais, não para produzir melhor. Isso favorece marcas com dados proprietários, identidade clara e mensagens consistentes, pois em um ambiente barulhento, a clareza se torna mais escassa e, portanto, mais valiosa. A IA pode reduzir desigualdade técnica, mas não reduz desigualdade estratégica, pelo contrário, ela a expõe ainda mais.
Se todos usam IA para produzir mais rápido, qual passa a ser a nova vantagem competitiva? O que realmente vai gerar atenção qualificada em 2026? Podemos já identificar algumas tendências nesse sentido?
Quando a velocidade passa a ser igual para todos, a verdadeira vantagem competitiva retorna para aquilo que a IA ainda não consegue imitar: a experiência, conteúdo proprietário, o domínio profundo de um tema, a capacidade de conectar pontos e gerar confiança. Em 2026, a atenção qualificada vai surgir de conteúdos que refletem prática real, que resolvem problemas concretos e que entregam clareza num ambiente cada vez mais barulhento. E, dentro desse cenário, duas tendências ficam muito nítidas. A primeira é a escassez intencional: menos comunicação, porém extremamente precisa, onde a lógica deixa de ser “publicar mais” e passa a ser “aparecer apenas quando existe algo que realmente merece atenção”. A segunda é a ideia de que contexto muitas vezes pode superar a personalização. Não basta identificar quem é o usuário; é essencial entender em que momento ele está, qual é a motivação dele e o que aquele conteúdo significa dentro da sua jornada. É essa combinação, precisão e contexto, que vai diferenciar quem captura atenção de quem continua apenas produzindo mais do mesmo.
Estamos caminhando para um colapso de atenção ou para uma reorganização natural do consumo mediada por algoritmos?
O que se desenha não é um colapso, e sim uma reorganização profunda. A atenção humana não está desaparecendo; ela está sendo redistribuída. Algoritmos vão continuar exercendo o papel de curadores de certa forma, filtrando o excesso e entregando ao consumidor apenas o que parece ter relevância para ele. O colapso seria quand

Armindo Ferreira
É jornalista com uma carreira sólida de mais de 22 anos na área – tendo passado pela TV Globo e SBT. Foi ainda finalista de um prêmio Esso e vencedor de um prêmio Unimed de Jornalismo. Hoje cobre três editorias: tecnologia, negócios e marcas. É um profissional multimídia possuindo além do blog, canal do Youtube, Instagram e Podcast. Apresentou por dois anos o programa Amigo Geek na TV Thathi SBT na região do Vale do Paraíba, Litoral Norte e Serra da Mantiqueira e também assinou a coluna de tecnologia Tech News no SBT News, o maior canal de noticias no Youtube da América Latina. Tem relacionamento com os principais nomes das verticais de conteúdo que atua, já tendo entrevistado os principais executivos desses setores, inclusive internacionais. Consultor de novas tecnologias, redes sociais e assuntos ligados a internet – é reconhecido como um dos principais profissionais deste segmento no estado de SP. É considerado ainda um dos principais blogueiros do país. Já deu entrevista para os principais veículos de comunicação tendo marcado presença em programas como Mais Você da Rede Globo e Domingo Espetacular na Record entre outros. Já palestrou em dezenas de lugares para milhares de pessoas em diversos estados brasileiros entre eles Paraná, Rio de Janeiro, Paraíba e Acre. Já esteve nos palcos do Twitter, Cubo, Festival Path, Digitalks, Campus Party entre outros. Há mais de 12 anos criou o Blog do Armindo para falar dos assuntos que gosta mais. Sempre de um jeito simples e descomplicado, um amigo geek, em que o leitor pode confiar para se informar com credibilidade.







