Estive em Orlando (Flórida/EUA) para acompanhar de perto a 10ª edição do Converge, conferência anual da Tanium que reuniu executivos, especialistas e parceiros para discutir os rumos da segurança e da operação de TI em um cenário marcado pela aceleração da Inteligência Artificial. Ao longo do evento, a mensagem central foi clara: diante de um ambiente de ameaças cada vez mais automatizado e sofisticado, as organizações precisam avançar rumo a operações e segurança verdadeiramente autônomas para sustentar seus negócios.

Durante o Converge, a Tanium, líder em TI Autônoma, anunciou avanços relevantes em Inteligência Artificial e na evolução de sua plataforma, visando capacitar empresas a alcançar operações de TI e segurança mais autônomas e se tornarem o que a companhia define como um “Negócio Imparável” (Unstoppable Business). As inovações foram apresentadas em um momento considerado crítico pelos especialistas, em que o cenário de ameaças passa a ser descrito como uma disputa direta de “IA contra IA”.

O evento contou com dois dias intensos de painéis e demonstrações práticas. Logo na abertura, o CEO da empresa, Dan Streetman, falou dos desafios e conquistas da empresa nas soluções de segurança endpoint, ou seja, no equipamento dos usuários.

No decorrer do evento tivemos outros grandes painéis principais com os principais executivos da marca, onde foram anunciadas novas funcionalidades da Tanium e sua visão para 2026.

Também foram realizados encontros menores e workshops onde empresas parceiras e clientes puderam demonstrar cases, ou ainda entender as novas funcionalidades. É um evento bem completo e complexo com dezenas de atividades.

O CEO da Tanium, Dan Streetman, teve uma conversa inspiradora com o ator e cineasta indicado ao Oscar Jesse Eisenberg. Reconhecido por uma abordagem narrativa afiada e profundamente humana, Eisenberg compartilhou reflexões sobre criatividade, resiliência e o papel cada vez mais presente da Inteligência Artificial, traçando paralelos diretos com os desafios enfrentados diariamente por líderes de TI e segurança.

Eisenberg reconheceu a controvérsia em torno do uso da Inteligência Artificial nas artes, mas explicou que a utiliza como um recurso administrativo, voltado à organização de ideias e pesquisas, permitindo que concentre sua energia criativa nos elementos mais humanos da narrativa. Em um experimento recente, ele testou o ChatGPT ao fornecer milhares de páginas de seu próprio trabalho e solicitar a criação de uma cena de abertura em seu estilo. O resultado, segundo ele, reproduziu certos traços de humor e autoconsciência, mas carecia de algo essencial.

Essa ausência de “alma”, como descreveu, foi recebida com alívio e serviu como um lembrete claro de que, embora a tecnologia possa apoiar processos criativos e intelectuais, ela ainda não substitui a essência humana que dá significado à criação.

E durante o evento pude conversar com alguns executivos e clientes da marca.

A briga é da IA contra a IA.

Para Matt Quinn, Chief Technology Officer da Tanium, a estratégia da empresa está ancorada na capacidade de transformar dados em ação em escala. “Continuamos a ultrapassar os limites do que é possível ao alavancar a IA e a inteligência de endpoint em tempo real”, afirmou o executivo, ao destacar que o objetivo é mover as organizações de um modelo reativo para operações cada vez mais autônomas. Segundo Quinn, esses avanços permitem entregar resultados de ponta a ponta com velocidade e escala por meio de uma única plataforma unificada, sustentada pela arquitetura exclusiva de cadeia linear da Tanium.

A urgência por autonomia aparece diretamente ligada à escalada das ameaças cibernéticas. Tim Morris, Chief Security Adviser da Tanium para as Américas, descreveu o atual campo de batalha digital como uma luta de “IA contra IA”. De acordo com ele, a Inteligência Artificial reduziu drasticamente a barreira de entrada para ataques complexos, como os ataques de dia zero, que antes eram restritos a nações-estado. “A IA criminosa agora consegue escrever código de forma mais eficiente e criar malwares que se transformam e aprendem em tempo real”, explicou.

Mesmo diante de investimentos crescentes em prevenção, Morris reforçou que o ataque é inevitável. “Apesar de todos os esforços de prevenção, o ataque vai acontecer, e as empresas precisam se tornar muito, mas muito boas em responder”, afirmou. Nesse contexto, a IA passa a ser essencial para analisar grandes volumes de telemetria e dados, permitindo identificar comportamentos suspeitos ou raros em ambientes cada vez mais complexos.

Esse avanço, no entanto, traz consigo novos desafios de governança. Um dos riscos destacados por ele durante entrevista comigo foi o Shadow AI, ou IA Sombra. Morris comparou o fenômeno ao uso descontrolado de bancos de dados Access e planilhas Excel nos anos 1990, quando ferramentas eram adotadas sem controle central de TI. Segundo ele, esse risco surge quando a organização não define claramente como a IA deve ser utilizada ou quando as ferramentas existentes não oferecem flexibilidade suficiente. “Modelos de linguagem criados por terceiros podem ser baixados e usados como verdadeiros cavalos de Troia”, alertou, ressaltando que esse tipo de prática pode expor os dados mais valiosos das empresas.

A pressão executiva para lidar com esse cenário também foi destacada por Eric Gaston, Executivo de Engajamento Global e Conselheiro de CIOs na Tanium. Para ele, a principal dor é a dificuldade de acompanhar o ritmo da inovação. “Os clientes sentem que não conseguem acompanhar a evolução de IA e de plataformas e, ao mesmo tempo, maximizar o valor de grandes investimentos já realizados”, afirmou.

Para enfrentar essa complexidade, a Tanium apresentou uma série de avanços focados na simplificação da plataforma e na entrega de resultados concretos de negócio. Entre eles está a expansão da IA Agente, com o lançamento do Tanium Ask, primeira experiência de IA agente da empresa, que integra fluxos de trabalho orientados por IA diretamente à plataforma. A ferramenta permite que administradores investiguem, solucionem problemas e realizem a remediação de endpoints de forma mais rápida, além de enriquecer dados de segurança para automatizar a triagem de alertas e fornecer recomendações acionáveis.

Outro destaque foi o Tanium AI Agent for ServiceNow, no qual o agente de IA da Tanium é incorporado ao Now Assist do ServiceNow. Quando um incidente é aberto, a ferramenta passa a puxar automaticamente inteligência de endpoint em tempo real para dentro do fluxo de trabalho, permitindo que administradores executem ações recomendadas, como a desinstalação de softwares, a partir de uma única interface de chat. Um Executivo Técnico da Tanium explicou que essa integração materializa o conceito de TI Autônoma. “A Tanium atua como os olhos e as mãos, detectando problemas e executando mudanças, enquanto o ServiceNow funciona como o cérebro, criando e aprovando incidentes”, resumiu.

A empresa também anunciou a expansão do gerenciamento de endpoints, ampliando a visibilidade da plataforma para ambientes de tecnologia operacional. O Tanium Endpoint Management for Operational Technology passa a integrar dispositivos como interfaces homem-máquina e controladores lógicos programáveis, oferecendo visibilidade unificada entre os domínios de TI e industrial, algo considerado crítico para infraestruturas essenciais.

No campo da segurança, a Tanium reforçou sua aposta em princípios de Zero Trust e em uma postura mais proativa. O Tanium Jump Gate foi apresentado como uma forma de eliminar acessos permanentes, aplicando acesso sob demanda, somente quando necessário e na medida certa. Segundo a empresa, isso garante mais tranquilidade aos usuários finais ao limitar o acesso às informações somente às pessoas certas e em situações específicas. Já o serviço Tanium HuntIQ incorpora especialistas da empresa diretamente nos ambientes dos clientes para otimizar operações de segurança e detectar ameaças furtivas. Esses threat hunters usam a tecnologia da Tanium para buscar a agulha no palheiro.

O Brasil também teve destaque ao longo do Converge. Jorge Lopez, Vice-Presidente para a América Latina da Tanium, ressaltou a relevância estratégica do país. “O Brasil é um mercado super importante mundialmente e o maior mercado da América Latina, além de ser um dos mais inovadores no uso de tecnologia”, afirmou. Segundo Lopez, a estratégia de crescimento da Tanium na região se apoia em três pilares: a tecnologia da empresa, o engajamento dos clientes e o papel dos parceiros na transformação da inovação em resultados concretos.

Havia cerca de 30 participantes brasileiros no evento, é caso do André Casimiro Costa, um dos fundadores da PetaCorp, parceira da Tanium aqui no Brasil, que destacou o recurso como um diferencial estratégico. “O agente de IA da Tanium é um carro-chefe, principalmente pela capacidade de usar linguagem natural para tratar governança e segurança, oferecendo respostas rápidas e sugerindo soluções com seus possíveis impactos”, afirmou.

Ao abordar os desafios locais, Lopes explicou que, no setor privado e entre médias empresas, a Tanium conecta operação e segurança justamente porque a má administração da infraestrutura abre espaço para incidentes de segurança. Nesse segmento, a estratégia passa pelo uso de parceiros e do modelo MCP, que permite entregar a tecnologia como serviço. No setor público, apesar dos ciclos de compra mais longos, André Casimiro Costa observou uma mudança de mentalidade. “O setor público está evoluindo e já começa a enxergar segurança não mais como despesa, mas como investimento”.

Lopes também citou a inovação financeira brasileira como exemplo dos desafios desse cenário. “A implementação do Pix vem com o preço da inovação. Ela agiliza o negócio, mas naturalmente abre possibilidades de ataque”, disse. Para empresas que ainda hesitam em adotar soluções mais avançadas, Eric Gaston recomendou começar pelo essencial. “O primeiro passo é garantir boa visibilidade e integridade dos dados”, afirmou, destacando que a Tanium permite controlar, racionalizar e orquestrar essas informações.

Jorge Lopez reforçou que a missão de concretizar a TI Autônoma e o conceito de Negócio Imparável até 2026 ganha força com o efeito multiplicador do Converge. “Clientes e parceiros voltam super afiados, prontos para continuar atendendo e crescer com os clientes”, concluiu. Para a empresa, a IA, quando usada como ferramenta para elevar o nível de pensamento e reduzir ruído operacional, torna-se um elemento central para direcionar esforços a resultados que impactam diretamente a receita, e não somente a redução de custos.

Encerramento do evento foi em um dos Parques da Universal.

E para encerrar o evento a Tanium reuniu todos os cerca de 3 mil participantes do evento no Parque da Universal Island Of Adventures. O próximo encontro anual da empresa deverá ser realizado na cidade de Los Angeles, também nos Estados Unidos.

Armindo Ferreira esteve em Orlando participando da cobertura do Converge a convite da Tanium.