Tecnologia | Games | Filmes & Séries | Geek

O livro negro dos influenciadores digitais ou como números podem ser manipulados

Tenha atualizações em tempo real diretamente no seu dispositivo, inscreva-se agora.

Nos últimos dois meses eu estive mergulhado em pesquisar todas as possibilidades de manipulações em números de redes sociais e como essas técnicas podem ser usadas para enganar as marcas.
Marcas essas que tem sua parcela de culpa, uma vez que, ao somente exigirem números como se redes sociais fossem uma emissora de TV, acabaram por assim dizer que pessoas que querem trabalhar com isso fossem buscando recursos para digamos burlar o sistema.
Nesse post não serão reveladas as técnicas, uma vez que ao dar a notícia da bomba caseira não se pode ensinar o leitor a fazer uma e também não serão revelados nomes nem links.
Também é bom que se fale que muitas dessas pessoas acham normal usar esse tipo de recurso porque viram outros fazendo, porque não são da área de comunicação e portanto não entendem muita coisa e uma parcela menor faz só para burlar mesmo e atender os anunciantes – e sabem exatamente que estão fazendo isso. Assim acredito que seja função da marca acompanhar a qualidade de interações de cada influenciador e – quem sabe um dia – entender a relatividade dos números. Já cada influenciador segue por sua conduta e valor e não cabe a mim fazer qualquer julgamento disso, apesar de ter forte opinião sobre o tema.
Dito tudo isso vamos aos recursos usados para manipular números em redes sociais.

Compra de interações

Esse aqui é o mais manjado de todos e quase todo mundo sabe que existe, mas em alguma instância faz de conta que não. Existem empresas no Brasil que se especializaram nessas vendas de curtidas, seguidores e likes. E cobram alto por isso.  500 likes podem custar até R$ 250,00.

Mas uma garimpada em sites gringos e com muita calma e paciência é possível valores bem mais atrativos. Aos montes:

É possível também comprar tráfego para blog a um preço bem atrativo:

Mas por que no Brasil é tão caro e nos EUA tão barato? Simples percepção de valor. Se tem alguém disposto a pagar no Brasil R$ 250,00 por que cobrar R$ 10,00?
E por que alguém está disposto a pagar R$ 250,00? Porque pode-se cobrar numa ação de marketing num “instagram bombado”, por exemplo cifras que podem chegar a mais de R$ 10.000,00 por mês.  Parece ser um bom investimento…
É claro que na maioria desses casos são seguidores robôs de outros países ou ainda sistemas de TI que burlam certos mecanismos das redes sociais. E evidentemente toda prática não real e automatizada é proibida em todas as redes e passíveis de suspensão de contas, mas muitos fornecedores dão garantias de risco zero de perda.
Alguns prestadores de serviço nessa área se profissionalizaram e garantem seguidores reais. Normalmente são pessoas que em troca de alguns seguidores transformam suas contas em zumbis que seguem sem um controle do dono da conta ou ainda sistemas de trocas de likes onde a cada nova curtida se ganha um crédito para ganhar um novo curtidor.
E porque essa prática é ruim para as marcas? Bom porque ali não há desejo real de acompanhar aquele determinado perfil e portanto quando é feita uma ação com aquela pessoa para impactar consumidores, está se impactando o que? Se você respondeu vento, acerto!
Ahhh já dá pra comprar uma rede pronta no Instagram também com quase 25 mil seguidores

Redes de confiança

Anúncios

Esse esquema foi denunciado esses dias por uma blogueira do interior de SP que chegou até a sofrer ameaças por conta disso. Redes de confiança são grupos criados no Facebook e WhatsAPP com a intenção de trocar comentários e likes. Assim cada membro desse grupo precisa curtir e comentar a cada novo post de outra pessoa e o mesmo acontecerá com ela. É um sistema cada vez mais sofisticado e de difícil detecção.
São combinadas hashtags, códigos e formas de fiscalização para que nada dê errado e as pessoas que não participam e interagem são banidas desses grupos justamente por quebrar a confiança.
Vi uma Youtuber justificar:

“Eu uso esse tipo de recurso porque eu não acho errado a gente não tá no mundo sozinho e a gente precisa se ajudar”

E de fato se estivermos falando somente de popularidade (ou uma pseudo) a lógica não é de toda errada.
Mas porque isso é um problema para as marcas?
Porque você contrata o influenciador digital e ele te manda um relatório depois que determinada postagem teve digamos mil curtidas. E aí você pensa puxa nada mal 1000 pessoas gostaram do conteúdo do meu cliente. Mas na verdade mil pessoas gostaram ou mil pessoas curtiram ou comentaram ali para simplesmente não sair do círculo de confiança e na verdade não estavam nem aí para o produto do seu cliente?

Ferramentas de automação

Ferramentas de automação são criadas para repetir interações humanas e assim dar uma falsa sensação de interação com outras pessoas. Essas pessoas acreditam que se trata de uma interação real e humana e passam a interagir com você de volta.
Eu baixei um programa de celular gratuito que envia até 20 comentários aleatórios para 20 contas de instagram de um tema variado. Com a promessa de que essas pessoas poderiam seguir de volta.
Também baixei um programa que potencialmente usa as hastags mais populares do instagram naquele momento e com isso o seu perfil vai receber várias interações. É o que eu usei aqui nessa foto. Perceba a quantidade de hashtags:

Anúncios


 
Agora uma postagem sem o uso do aplicativo


 
Praticamente o mesmo número de likes, apesar do programa prometer justamente o contrário. Mas por cerca de R$ 200,00 é possível achar uma ferramenta de automação que sai seguindo e “desseguindo” pessoas com a intenção de fazer você ser “notado” e eventualmente seguido.
É por isso que as vezes você recebe um comentário gringo genérico em uma foto sua no Instagram ou perfis te seguem sem aparente sinergia. Na verdade são robôs ou bots trabalhando para seus donos.
E a esta altura também não preciso dizer porque as marcas que investem em quem usa essa prática estão investindo em nada não é mesmo?

E como se proteger?

Bom não é preciso dizer que todo esse cenário foi criado pelas próprias agências e marcas por buscarem cada vez números maiores para de forma insana e sem nenhuma preocupação com a qualidade dessas interações. Assim quando o número não for tão relevante em prol de um engajamento real essas práticas perderão o valor, como já acontece em outros países.
Além disso é preciso que a marca garimpe os melhores influenciadores para ação e busque relacionamento com essas pessoas, acompanhando seu trabalho de perto e buscando uma relação de longo prazo.

Eu sou influenciador e queria fazer isso do jeito certo

Anúncios

Todas as plataformas de conteúdo tem formas de se anunciar para públicos-alvos determinados e ao fazer esses anúncios os seguidores/assinantes/fãs virão a partir desses anúncios e com um real interesse no seu conteúdo e não de forma automatizada.
 

Tenha atualizações em tempo real diretamente no seu dispositivo, inscreva-se agora.

Sem comentários
  1. Enio Machado Diz

    Texto espetacular. Altamente elucidativo. E percebemos que realmente vai ficando cada vez mais difícil nos situar nesse cipoal de estratégias burlescas que não param de pipocar no universo on line. Obrigado por nos ajudar a compreender melhor esse universo.

    1. Armindo Ferreira Diz

      Enio que presente seu comentário aqui!!! Muito obrigado pelo seu feedback. abs

  2. Valéria Pinheiro do Nascimento Diz

    Sensacional Armindo! São irritantes estas práticas enganadoras nas mídias sociais. Pior é que tem gente que se ilude com este tipo de interação (desanimador!). Vivo recebendo propostas de “parcerias” ou de pessoas que se intitulam “influenciadores digitais”, mas que não são capazes de trazer nenhum retorno, porque é tudo fake.

    1. Armindo Ferreira Diz

      Obrigado pela mensagem Valéria!

Comentários estão fechados.

Esse site usa cookie para melhor sua experiência Aceitar